quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Noções de História da Ciência – Parte 2


     O século XVII usualmente é chamado de Século da Revolução Científica. No entanto, deve-se entender que essa é uma noção construída nos séculos XIX e XX. Ninguém do próprio século XVII chamava sua própria época de uma época de Revolução Científica e nem chamava aquilo em que se envolvia, nem mesmo os que se envolviam com Ciência, de Revolução Científica. O próprio conceito de Revolução ainda não existia. A noção de Revolução que será ligada à ideia de revolução política só vai ganhar força a partir da Revolução Francesa em 1789, no fim do século XVIII.
     Portanto, a assim chamada Revolução Científica foi construída séculos depois de seu suposto acontecimento. Por outro lado, isso não tira o valor daqueles que propiciaram ter-se essa ideia de que teria havido uma Revolução Científica no século XVII. O que aconteceu de diferente nesse período foi o aparecimento de ideias que deram início a métodos que levaram ao Conhecimento Científico.
     Há que se entender porque das noções de Conhecimento, em sentido amplo do termo, começa a ser separado um tipo específico de Conhecimento que vai se consagrar como Conhecimento Científico. Essa expressão vai se firmar na medida em que a Ciência passa a se destacar do Conhecimento.
     O aparecimento da chamada Ciência Moderna nesse século XVII acompanha o gradual uso da linguagem vernácula, em substituição ao Latim, para textos de Conhecimento ou textos científicos.
     A linguagem da Universidades era em Latim, porque desde o Império Romano e mesmo antes, na República Romana, as pessoas aprendiam a ler e escrever em Latim. Com o passar do tempo, isso se manteve, mas gradualmente os estudantes voltavam da escola para suas casas onde cada vez mais se falava a língua local e cada vez menos o latim. Assim, na medida em que a Idade Média avança, o Latim permanece como a língua das escolas, onde se aprende, inicialmente, a ler e escrever, e posteriormente o aprendizado mais elaborado de então. Na Idade Média (e desde os tempos de Aristóteles) consolidaram-se o Trivium e o Quadrivium como modelos de Ensino/Aprendizado. Como os próprios nomes sugerem, Trivium e Quadrivium correspondem a três e quatro disciplinas de estudo. O trívium: Gramática, Retórica, Dialética; o quadrivium: aritmética, geometria, astronomia e música. No transcorrer da Idade Média surgem pré-universidades até que em torno dos séculos X/XI começam as instituições inicialmente chamadas de Estudos Gerais, antes de terem o nome de Universidades. Inicialmente há quatro faculdades: Medicina, Artes, Teologia e Leis.
     Nos séculos XVI e XVII iniciam as Academias. Nessas instituições começaram as primeiras atividades que podem ser consideradas como primórdios de pesquisas científicas que vão configurar a Ciência Moderna. Nesse contexto que no século XVII as três figuras, Francis Bacon, Galileu Galilei e René Descartes vão elaborar os métodos de pesquisa que dão início à Ciência Moderna e à Ciência como separada do Conhecimento. Mas devemos lembrar que a Ciência também é chamada de Filosofia Natural até a transição do século XVIII para XIX.
     

domingo, 5 de novembro de 2017

Noções de História da Ciência - Parte 1


Prof. Dr. Afonso Carlos Neves

Preâmbulo: O uso das palavras...
Thomas Kuhn em “Depois da estrutura” (1996) refere ter descoberto que o sentido da palavra “movimento” em Aristóteles é diferente do sentido que essa palavra tem em Física. P. ex., para Aristóteles, a metamorfose de larva em borboleta é um tipo de “movimento”.
Assim ele fala em “Incomensurabilidade de diferentes ou sucessivas teorias”.
Nesse sentido, a linguagem precede as teorias, embora seja também modificada pelas próprias teorias.

A palavra “História”:
Provém de vocábulo grego equivalente a “testemunho”, sendo o nome da obra de Heródoto (484-420 a.C.), tradicionalmente chamado de “Pai” da História.
A História como narrativa de testemunhos se mantém até o século XVII. Nesse período inicia-se o estudo crítico de documentos em 1681 com o monge Mabillon (1632-1707) e sua obra De re diplomática, que trata de análise crítica de documentos antigos. Juntamente com ele trabalhou também Daniel Papebroch (1628-1714). Concomitantemente formaram-se os jesuítas bolandistas (Jean Bolland), com estudos sobre hagiografia (vida dos santos).
Em 1685 Richard Simon (1638-1712) inicia uma história crítica da Bíblia.

Os “Enciclopedistas” aparecem no Século XVIII, com os Iluministas. Denis Diderot (1713-1784) é o principal responsável pela primeira encoclopédia moderna a “Encyclopédie” (1750-1772).

Jules Michelet (1798-1874) no século XIX faz uma História Narrativa extensa de cunho anticlericalista. Começa a escrever em 1825.

Marc Bloch (1886-1944) e Lucien Febvre (1878-1956) em 1929 começam a “Nova História”. Fundaram a Escola dos “Annales” com a revista “Annales d’Histoire Économique et Sociale”. Lançam um olhar sobre aspectos menos vistos pela História Convencional. Realçaram uma “psicologia dos testemunhos”.
Nos anos 1960 inicia-se uma História das mentalidades, tendo entre seus nomes Michel Foucault (1926-1984) e Carlo Ginzburg (1939- ).

A Periodização histórica foi algo criado, em geral, tempos depois daquilo de que ela trata. Assim, os renascentistas e principalmente os iluministas e pós-iluministas criaram a imagem da Idade Média como Idade das Trevas , com apenas ignorância e seus desdobramentos. As pesquisas nas últimas décadas têm mostrado que essa visão é equivocada. Atualmente sabe-se que havia ciência na Idade Média.
A periodização histórica começou com Petrarca e Bruni no século XIV e se consolidou nos séculos XVII e XVIII a partir de Cristoph Cellarius (1634-1707).
De maneira mais convencional podemos considerar:
Periodização pré-histórica:
500 mil a 10 mil a.C – Paleolítico.Idade da Pedra Lascada.
(20 mil a 10 mil a.C. – mesolítico?).
10 mil a 4 mil a.C. – Neolítico.Idade da Pedra Polida.
Sedentarismo. Agricultura. Criação de animais.

Idade Antiga: 4000 a.C. – 476 d.C.
do início da Escrita ao fim do Império Romano do Ocidente
Idade Média: 476 – 1453 d.C.
Do Fim do I.R. do Ocidente ao fim do I.R. do Oriente
Idade Moderna: 1453 – 1789 d.C.
Do Fim do I.R.Oriente à Revolução Francesa
Idade Contemporânea: após 1789.

Periodização pré-histórica:
500 mil a 10 mil a.C – Paleolítico.Idade da Pedra Lascada.
(20 mil a 10 mil a.C. – mesolítico?).
10 mil a 4 mil a.C. – Neolítico.Idade da Pedra Polida.
Sedentarismo. Agricultura. Criação de animais.

1789 – início da IDADE CONTEMPORANEA
Século XIX:
A palavra MODERNIDADE é conceituada por Baudelaire caracterizando o que é fugaz, passageiro.
Nesse período surgem: Revolução Industrial, aprimoramento da Tecnologia, nova urbanização. Como contraponto aparece o movimento do Romantismo, com nostalgia por elementos medievais.

Hegel, filósofo idealista, fala do “moderno” na história. O Romantismo aparece em um tempo de “ideais” como contraponto à Revolução Industrial e às novidades científicas na transição do século XVIII para século XIX.
Pode-se considerar que um Período Moderno ocorreu de 1800 a 1950.

A Pós-Modernidade foi conceituada por Lyotard, como sendo um período a partir dos anos 1950.
O tempo Pós-Moderno se caracteriza então por ser um tempo das “eficiências”, do “pragmatismo”, de “resultados”.
As duas primeiras décadas do século XXI têm sido um período de transição para um período Pós-pós-moderno, na medida em que eficiência, pragmatismo e resultados não têm dado conta das questões atuais.

A palavra Ciência vem de Scientia :
é um termo técnico em Descartes que vem do verbo latino scire para “conhecer”.
Refere-se em Descartes à obtenção de uma ciência unificada (séc. XVII).
Ele define scientia como “cognição certa e evidente” (Regra II das Regulae).
Põe o raciocínio contra a “sabedoria acumulada”.
Já anteriormente a ele, Scientia em S. Tomás de Aquino estava submetida à Lógica Aristotélica (Escolástica).
Com o gradual uso das línguas vernaculares no lugar do latim para o discurso científico, a palavra Scientia, ao ser traduzida passou a ser utilizada cada vez mais com o sentido que tem atualmente como um tipo de Conhecimento decorrente do Método Científico.
A História da Ciência inicia-se praticamente no século XX.

Inicialmente teve-se a História “Whig”:
Termo atribuido em 1931 por Herbert Butterfield a uma história
que acredita em uma marcha evolutiva inevitável para o progresso
através da ciência.

Outros conceituadores em Filosofia e História da Ciência tiveram ideia um pouco diferente.

Gaston Bachelard (1884-1962) questionava a história da Ciência linear e as tendenciosidades dos cientistas. Algumas obras:
1934 – “O novo espírito científico”
1938 – “A formação da mente científica”

Georges Canguilhem (1904-1995), médico e historiador:
1943 – “O normal e o patológico”
1952 – “O conhecimento da vida”

Karl Popper (1902-1994). Filósofo da Ciência, escreveu em 1934  “A Lógica da Descoberta Científica”.
Propunha um racionalismo crítico frente á Ciência e o seu conhecido critério de falsificabilidade para identificar o que seria científico.

Alexander Koiré (1892-1964) questionava a imparcialidade dos cientistas. Escreveu em 1939 – “Estudos galileanos”.

Conceituação de Paradigma:
Paradigma é um termo que já existia como sinônimo de “modelo”.
O físico Thomas S. Kuhn (1922-1996) em “A Estrutura das Revoluções Científicas” (1962-1970) estabelece conceito de paradigma científico:

“Considero ‘paradigmas’
as realizações científicas
universalmente reconhecidas que,
durante algum tempo,
fornecem problemas e soluções modelares
para uma comunidade
de praticantes de uma ciência”.

Assim ele refere que o Paradigma é como um Quebra-cabeça:
Só se pode fazer perguntas (problemas) dentro do modelo.
Só se pode fornecer respostas (soluções) dentro do modelo.
Por algum tempo, o paradigma dá conta das perguntas, no período de “ciência normal”, quando se repetem os seus métodos.
Chega um momento em que alguém começa a formular perguntas (problemas) que não cabem no quebra-cabeça (modelo).
Esse indivíduo é considerado excêntrico, louco, de competência duvidosa, “um poeta”, etc.
Um conflito pode estar presente na linguagem e/ou no método,
tanto da formulação do problema quanto na busca/proposta de solução.
Com a conceituação de paradigma científico por Thomas Kuhn, passa-se de uma visão de história da Ciência simplesmente linear e cumulativa para uma noção mais dinâmica e contextualizada.

Outras visões dentro de Sociologia e História da Ciência:
Anos 1970 – “Programa Forte” da Sociologia da Ciência.
David Bloor, Barry Barnes, Harry Collins, Donald MacKenzie, John Henry.
A – Causalidade: condições psicológicas, sociais, culturais.
B- Imparcialidade: examina sucesso e insucesso
C- simetria: mesma explanação para ambos
D – reflexividade: aplicável à sociologia.

Anos 1980 –
Teoria Ator-rede (Actor-network theory)
Michel Callon, Bruno Latour, John Law.
Valoriza o papel dos “não-humanos” na ciência.
Adentra ao laboratório para investigar o dia a dia do cientista e dos “não-humanos” presentes na atividade científica.

História da Ciência e da Medicina:
História internalista: a história feita pelos membros de uma disciplina científica, muitas vezes para edificar a identidade do grupo.
História externalista: a história de um campo científico feita por historiadores com métodos próprios de Ciências Humanas. P. ex.:
Canguilhem; Foucault; Puertas; Porter; etc.


sábado, 14 de outubro de 2017

O Movimento Slow Medicine ou “Medicina sem Pressa” e o Período Pós-Pós-Moderno da História


     A História da Medicina a partir de Hipócrates tem 2.500 anos. Se considerarmos o tempo anterior com os precursores de Hipócrates, ou mesmo com os egípcios e outros povos, pode-se ir mais longe.
     No transcorrer da História da Humanidade, a Medicina em grande parte acompanhou o contexto histórico em que acontecia, e em menor parte, tinha suas próprias peculiaridades.
     A maneira como nós olhamos para a História não aconteceu de forma espontânea, ou involuntária, mas foi construída a partir da reflexão de determinadas pessoas a respeito do passado e suas correlações com diversos fatores.
     Assim, a “periodização histórica” foi elaborada inicialmente por Petrarca (1304-1374) e Leonardo Bruni (1370-1444), nos séculos XIV e XV, ainda no Período depois conhecido como Idade Média. Eles consideraram a Idade Antiga como um Período Clássico Greco-Latino, depois teria vindo um Período que eles consideraram como de certa obscuridade do  conhecimento. Petrarca, como o iniciador do que viria a ser considerado (no século XIX) como “Renascimento” (embora alguns já usassem termo similar no século XV), já estava moldando o que se tornaria conhecida como “Idade das Trevas”, principalmente por conta dos Iluministas e Pós-Iluministas.
     Na verdade, qualquer Era, ou Idade, é das Trevas e da Luz.
     Essa maneira de divisão da História acabou sendo mais reformulada por Cristoph Cellarius (1634-1707) em 1702, ou seja, no início do século XVIII.
     Evidentemente, com o passar do tempo, outros detalhamentos foram acrescentados a essa periodicidade. Ela pode ser considerada como uma espécie de base para raciocinar, mas há muitas críticas a respeito de uma visão engessada da História, como se ela fosse facilmente linear e determinada por determinados fatos. Atualmente, novos estudos, pesquisas, descobertas, trazem novas noções a respeito da História.
     Como dizia Marc Bloch (1886-1944) a História é: “O presente explicando o passado e o passado explicando e presente”. Assim, é um estudo vivo, contínuo, dinâmico e não apenas uma descrição acabada do passado.
     Voltando à periodização histórica. A Era iniciada em 1453, com a Tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos, passou a ser chamada de Era Moderna. Além desse fato, também caracterizam o início dessa Idade Moderna: as Navegações, a Reforma religiosa, a invenção da Imprensa, a disseminação da invenção/descoberta da pólvora, o Renascimento Conhecimento Clássico Greco-Latino, Mercantilismo, entre outros fatores.
     Têm-se aí o uso da palavra “Moderna”. Essa palavra “moderna”, ou “moderno”, inicialmente foi utilizada com o sentido que usamos hoje pelo sábio romano Cassiodoro, no século VI, quando, ao voltar de exílio no exterior de Roma, constatou que nessa cidade ninguém mais entendia a língua grega. Então exclamou: “Vivemos em tempos modernos”.  “Moderno”, vem de “modo” em latim e se refere a tempos verbais. A palavra “moderno” passou a ser utilizada com o sentido de algo que está acontecendo agora, algo novo, etc. Na Idade Média ainda foi usado dessa forma por alguns comentadores do tempo de Carlos Magno e posteriormente.
     Portanto, quando se chama uma Era de Idade “Moderna”, está-se querendo caracterizar como uma idade de inovações, invenções, descobertas, conhecimento, etc., para se opor à Idade Média. Mas, por outro lado, na Idade chamada de “Moderna”, também aumentou e foi praticamente oficializada a Escravidão no Ocidente; aumentou a Inquisição religiosa, a Ciência Moderna nascente deu vazão à conceituação de raças e seu consequente preconceito; surgiram as colônias dos Estados europeus. Assim, a chamada Idade Moderna também teve suas trevas...
     Continuemos com o uso do termo “moderno”.
     A partir da Revolução Francesa, em 1789, tem-se o início da Idade que foi chamada de Idade Contemporânea, com suas subdivisões.
     O termo “Contemporâneo” dá ideia de que é aquilo que “vivemos agora”. Na medida em que o tempo passe, é possível que se considere que a Revolução Francesa e suas consequências, bem como suas correlações, deixem de ser consideradas “contemporâneas”. Mas, ainda há muitos elementos presentes ainda que podem favorecer a manutenção desse conceito de forma expandida, ampla.
     Ao mesmo tempo em que acontecia a Revolução Francesa, outros processos históricos também ocorriam. A Revolução Americana (um pouco antes, em 1776). A Revolução Industrial, mudando o processo de produção de artesanal para a possibilidade de um primeiro modelo de “produção em série”; isso levou ao deslocamento de pessoas da área rural para a área urbana.
     De 1800 a 1950, temos um período que passou a ser chamado de Período Moderno, para diferenciar da Idade Moderna.
     Esse Período Moderno teve como características iniciais: a formação do Estado-Nação, depois das Invasões Napoleônicas (cada Estado com uma língua, uma bandeira, um hino); a acentuação da Revolução Industrial; a transformação da Ciência em “profissão”; o desenvolvimento tecnológico; novas descobertas na Medicina; a criação da Universidade Moderna, a partir de 1810, com a fundação da Universidade de Berlim, por Wilhelm von Humbolt, quando, finalmente, os laboratórios que só existiam nas Academias, foram incorporados às Universidades, que transmitiam um Conhecimento tradicional, algo distante das descobertas das Academias. Esse modelo de Universidade se espalhou pelo mundo e caracteriza a Universidade Moderna. Ainda nesse período surgiu o Romantismo, como uma reação a certo sufoco e perda de tradições locais pelo tipo de nacionalismo do Estado-Nação (embora o próprio Romantismo tenha algo de nacionalista, no sentido de resgatar origens) e como reação ao recente poder da Ciência (como se pode ver em Frankenstein de Mary Shalley e outros similares). Assim, no Período Moderno também vieram Realismo, Impressionismo, Modernismo, Expressionismo, Surrealismo, etc., com seus equivalentes nas diversas Artes, seja Literatura, Música, Pintura, etc.
     Esse Período Moderno era uma época de viver por ideais, valorizar os meios para se chegar a determinados fins, embora ambos esses fatores entremeados com diversos outros em um quadro complexo.
     Como dizia o historiador britânico Hobsbawm, o século XX começou em 1914, com o início da Primeira Guerra Mundial e terminou em 1989 com a Queda do Muro de Berlim. Embora muito interessante, não vamos pormenorizar agora esse conceito.
     Indo então para o fim da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1950 inicia-se o Período Pós-Moderno (conforme estudo de Lyotard de 1977). Esse período caracteriza-se como uma era de Pragmatismo, Eficiência e Resultados. Ideais tornam-se secundários, os meios para atingir certos fins passam a ser secundários, levando a uma crise ética, embora os traumas da Guerra, e visam-se resultados palpáveis, concretos. A Subjetividade passa a ser cada vez mais substituída pela Objetividade. Há um movimento de contracorrente a isso presente na Contracultura, que tem suas consequências. Todo esse processo “pós-moderno” perdura até o início do século XXI, quando Pragmatismo, Eficiência e Resultados começam a decair.
     A Universidade Pós-Moderna é a que visa mais a Eficiência e os Resultados do que propriamente a formação da pessoa como ser humano, diferentemente da Universidade Moderna.
     Nesse Período Pós-Moderno, ocorreu a divulgação de uma certa “Globalização” como a salvação geral, e a gradual “desumanização” não só da Medicina, mas da sociedade, pois a Medicina só se desumaniza em uma sociedade que também se desumaniza.
     A Medicina, em sua História, teve altos e baixos diversos, no que concerne à “humanização”. Lembremos que este vocábulo aplicado à Medicina surgiu aproximadamente nas últimas três décadas do século XX.
     Surge então um período histórico de transição, ou, como diz Erwin Lazlo, de Macro Shift ou Macro-Transição. No início do século XXI, após o Atentado às Torres Gêmeas de 2001 e após a crise econômica mundial iniciada em 2008, os parâmetros Pragmatismo, Eficiência, Resultados, passaram a perder terreno e têm sido substituídos por outros parâmetros. Esse período de transição também pode ser chamado, por enquanto, de Pós-Pós-Moderno, já que o Pós-Moderno entra em decadência.
     A Medicina Pós-Moderna era aquela que se orientava, e ainda se orienta, por Pragmatismo, Eficiência, Resultados e Objetividade, ou Objetivismo, com desvalorização da Subjetividade ou Subjetivismo. Essa era uma Fast Medicine, ou seja, o mais rápida possível, independente de ser ou não uma situação emergencial. Esse Fast dizia respeito a Pragmatismo, Eficiência, Resultados, Objetividade.
     Agora, no Período Pós-Pós-Moderno, iniciado no século XXI, vemos que Pragmatismo, Eficiência, Resultados, Objetividade respondem cada vez menos às expectativas das pessoas e dos profissionais, exceto nos casos urgentes e emergentes. Procura-se recuperar o espaço da Subjetividade; procura-se uma Eficiência que seja apenas um meio para atingir um fim e não um fim em si; procuram-se os resultados que tenham um interesse comum e não apenas como um desperdício ou uma conquista sem finalidade.
     O Movimento Slow Medicine, ou “Medicina sem Pressa” surge nesse contexto pós-pós-moderno, que busca novos caminhos para a Medicina, inclusive recuperando uma parte dos velhos caminhos que se perderam pelo caminho...
   
    


domingo, 8 de outubro de 2017

Neuro-Narrativa e Neuro-Discurso: resumo da primeira aula. Parte 1


Nesta discussão sobre a interface entre os Estudos Neurológicos e os Estudos sobre Narrativa e Discurso, um primeiro aspecto a ser abordado é a designação que usamos em português para o termo “história”. Há décadas atrás a língua portuguesa tinha estabelecido 2 formas: “história” e “estória”, de modo similar aos termos em inglês “history” e “story”. “História” dizia respeito à narrativa de fatos, acontecimentos, ou ao supostamente real, ou ainda à ciência histórica. Já “estória” dizia respeito, em geral, a uma narrativa como “começo, meio e fim”, muitas vezes como ficção, mas não necessariamente. Estória com fatos reais, com começo, meio e fim, também pode ser mais “estória” do que “história”, embora possa conter fatos históricos.
     Podemos dizer então assim “estória” é uma narrativa com começo, meio e fim, sendo fatos supostamente reais ou não. História é a área de estudo assim designada, ou ainda a história clínica convencional.
     Há décadas, foi determinado que na língua portuguesa (pelo menos do Brasil) não se usaria mais o termo “estória” e apenas “história” para as diversas condições.
     Ao estudamos Narrativa e Discurso, parece-nos que isso é uma perda. Consideramos necessário, mesmo que usando em itálico ou entre aspas, o uso do termo “estória” para as narrativas de começo, meio e fim.
     Toda “estória” é uma narrativa. Nem toda narrativa é “estória”.
     Podemos fazer uma narrativa “histórica” com uma sucessão de dados históricos, a respeito de um assunto específico. Essa narrativa pode ter uma sequência lógica, mas não necessariamente tem “começo, meio e fim” como nas “estórias”.
     Podemos ler um livro sobre “história” que tenha uma descrição “histórica” de supostos eventos. Também podemos ler uma “estória” sobre esses mesmos eventos, mas que seja no modelo comumente chamado de “romanceado”, com começo, meio e fim.
     Conforme Prince (1987), “narrativa” é o recontar de um ou mais eventos reais ou fictícios comunicados por um ou mais narradores a um ou mais ouvintes.
     Dentro da Narrativa, um aspecto principal é a “intriga” ou “trama”: é a linha dos incidentes principais que constituem a estrurua caracterizável pelo arco dramático de Aristóteles ou pela pirâmide de Freytag.
     Em “A Arte Poética”, Aristóteles (384-322 a.C.) delineia o primeiro estudo a respeito de narrativa. Uma frase importante dessa obra é “A tragédia é a imitação de uma ação”. Essa colocação de Aristóteles implica também na arte de interpretação teatral da narrativa. Aristóteles nomeia as partes da narrativa interpretada como seis: fábula, caracteres, elocução, pensamento, espetáculo, canto.
     Já, no século XIX, o alemão Gustav Freitag (1816-1895), em “A técnica do Drama” estabelece no que é chamado de a Pirâmide de Freitag, uma forma de designar o “começo, meio e fim” da narrativa, com as partes: Exposição, incidente incitador, ação em progresso, complicação, clímax, reversão, redução da ação, resolução, desfecho. Dispostos em sequência ascendente e descendente, tem-se o clímax no ponto mais alto desse gráfico.
     Em Narratologia, considera-se ainda que:
Texto –  são as palavras e interrupções gráficas que compõem o texto.
Discurso – o texto conduzido pelo comunicador do texto.
Fábula – situações e eventos em ordem cronológica na narrativa.
Ator – é aquele que muda “o estado do mundo” na narrativa.
Ato – “estado do mundo” modificado pelo ator.
“Acontecimento/ocorrência” – mudança no “estado do mundo” não trazido por ator.
Personagem – ator antropomórfico.
Coerência da intriga/trama – é a percepção de que os eventos principais de uma estória
são causalmente relevantes para o resultado da estória.
Credibilidade da personagem – percepção de que os eventos da estória são
razoavelmente motivados por crenças, desejos e metas dos personagens dos eventos.
     Alguém pode questionar sobre o que tem a ver esses aspectos de narratologia com a atividade médica. Há várias explicações: uma é a recuperação do valor da anamnese; outra é que o paciente tem sua história clínica, mas tem também suas “estórias”, que podem conter fatores associados ao seu quadro, e podem esclarecer diversas situações clínicas. Assim, estórias dos próprios pacientes, por vezes, esclarecem aspectos da história clínica. Além disso, o exercício com narrativas pode melhorar o trabalho do médico, além de poderem melhorar neurologicamente e psicologicamente médico e paciente. 


terça-feira, 26 de setembro de 2017

Aula e seminários de 2 de outubro de 2017


Os seminários do Curso "Neuro-Narrativa e Neuro-Discurso" vão ocorrer no Anfiteatro Clóvis Salgado da Unifesp - Campus São Paulo, situado à Rua Botucatu, 862, no andar térreo do Edifício de Ciências Biomédicas. Portanto NÃO serão no Anfiteatro Lemos Torres.

domingo, 9 de julho de 2017

“Neuro-narrativa e Neuro-discurso” – 2017. Curso de Extensão


A Medicina Narrativa é um novo campo da área da saúde que procura trabalhar a interface entre literatura e medicina, no sentido de aprimorar no profissional de saúde a maneira de utilizar a linguagem na relação profissional-paciente não só nos aspectos ligados à anamnese, mas também no acolhimento e abordagem inicial e contínua do paciente, bem como nas reflexões e procedimentos a respeito de medidas terapêuticas a serem adotadas.
Noções de neurociência a respeito de cognição permitem associar a atividade narrativa e suas correlações com o aprimoramento das capacidades cognitivas, tanto do profissional, como do paciente. 

Local: Anfiteatro Lemos Torres (a confirmar)

Horário: segundas-feiras, 12:00 às 14 horas, de 7 de agosto a 9 de outubro (exceto em 4 de setembro – nesta data não haverá aula).

7/08 – Introdução ao Tema
14/08 - Práticas Narrativas em Saúde
22/08 - Linguagem Artística e Linguagem Científica
28/08 – Neuronarrativa 1
11/09 – Neuronarrativa 2
18/09 - Teorias do discurso e cognição
25/09 - seminário
02/10 - seminário
09/10 – seminário

Inscrições:
http://www.unifesp.br/reitoria/proex/acoes/cursos-de-extensao-e-eventos/cursos-e-eventos

Bibliografia
Abdounur, O. J. – Matemática e Música: o pensamento analógico na construção de significados. Escrituras Editora, 1999.

Adorno, T. – Indústria Cultural e Sociedade. Editora Paz e Terra, 2010.

Aristóteles – Arte Retórica e Arte Poética. Edições de Ouro, 1970.

Bauman, Z. – Modernidade e Ambivalência. Jorge Zahar Editor, (1991) 1999.

Bauman, Z. – O Mal-estar da pós-modernidade. Jorge Zahar Editor, 1997.

Bennet, M.R. & Hacker, P.M.S. – Philosophical Foundations of Neuroscience. Blackwell Publishing, 2010.

Canguilhem, G. – O normal e o patológico. Forense Universitária, (1996) 2009.

Duarte, R. (org.) – Belo, Sublime e Kant. Editora UFMG, 1998.

Eco, U. – As Formas do Conteudo. Editora Perspectiva, 1974.

Eco, U. – Tratado Geral de Semiótica. Editora Perspectiva, (1976) 1991.

Eco, U. – A Estrutura Ausente. Editora Perspectiva, 1991.

Edwards, B. – Desenhando com o lado direito do cérebro. Ediouro, 2000.

Foucault, M. – L’archéologie du savoir. Éditions Gallimard, 1969.

Foucault, M. – As palavras e as coisas. Editora Martins Fontes, (1981) 2002.

Fourez, G. – A Construção das Ciências – Introdução à Filosofia e à Ética das Ciências. Editora Unesp, (1991) 1995.

Frascina, F. et al. – Modernidade e Modernismo – a pintura francesa no século XIX. Cosac & Naify Ed. 1998.

Freud, S. – O mal-estar na Civilização. Imago Editora, 2002.

Huizinga, J. – Homo Ludens. Editora Perspectiva, 2010.

Ianni, O. – Enigmas da Modernidade-Mundo. Editora Civilização Brasileira, 2000.

Jourdain, R. – Música, Cérebro e Êxtase. Editora Objetiva, 1998.

Leão, L. – Interlab – Labirintos do Pensamento Contemporâneo. Editora Iluminuras, 2002.

Navarro, P (org.) – O discurso nos domínios da linguagem e da história. Editora Claraluz, 2008.

Rossi, P. – A Ciência e a Filosofia dos Modernos. Editora Unesp, 1992.

Charon, Rita – Narrative Medicine – Honoring the stories of Illness. Oxford University Press, 2006.

Mehl-Madrona, Lewis – Healing the mind through the power of story. Bear & Company.

Mehl-Madrona, Lewis – Narrative Medicine - The Use of History and Story in the Healing Process. Bear & Company.

A, H. Hawkins e M. C. Mc Entyre – Teaching Literature and Medicine

Arthur Kleinmann – The Ilness Narratives suffering healing & the Human Condition.

Arthur W. Frank – The Wounded Storyteller.

L. M. Medrona – Healing the Mind through the Power of Story – The promise of Narrative Psychiatry.

Brian Boyd – On the origin of stories: evolution, cognition & fiction.

Nos seminários serão usadas obras de Homero, Eça de Queiroz, Dostoiévski, John Steinbeck, George Orwell, Mário de Andrade, e outros autores.  






domingo, 11 de junho de 2017

Medicina Narrativa – Aula 2


Narrativa e o binômio Saúde/Doença

Se pensarmos em uma construção de conceitos, quais palavras podem expressar “Saúde” e “Doença”?
Como construir a Narrativa de Doença e de Saúde?
As narrativas convencionais de doença e de saúde incluem: Anamnese, Exame Físico, Diagnóstico e Terapêutica. Eventualmente alguém poderia perguntar se a narrativa não corresponde apenas à anamnese. Em um primeiro momento seria pensado dessa forma, já que a história clínica tradicional corresponde à anamnese. No entanto, os outros itens também possuem cada um sua “narrativa própria”.
O Exame Físico tem uma narrativa que, em um primeiro momento, já vem contada pelo próprio corpo do paciente na maneira como ele se apresenta, por inteiro, não apenas um corpo biológico, mas também um corpo com sua dinâmica, seu comportamento, seus trejeitos, sua narrativa social e cultural expressa na roupa que o cobre e em suas atitudes e expressões. Outra narrativa do corpo é aquela do Exame Físico propriamente dito. A apresentação inicial do corpo do paciente já tem em si uma narrativa que “é lida” pelo profissional de saúde através da lente de seu treinamento para esse tipo de leitura. A partir do Exame Físico propriamente dito uma outra narrativa se estabelece, a qual será relatada no prontuário médico, seguindo um determinado padrão de linguagem que tem também seus parâmetros de espaço/tempo, sendo uma reinterpretação, uma releitura daquela história clínica, que vai complementá-la, ou questioná-la.
O Diagnóstico também implica em outra narrativa. O discurso do Diagnóstico é sintetizado, muitas vezes, em um diagnóstico sindrômico, cujas palavras simbolizam, significam uma narrativa construída a partir do conhecimento médico. Ao mesmo tempo o Diagnóstico é uma espécie de Epílogo da narrativa clínica, como que dando um desfecho na somatória das narrativas que o precedem.
A Terapêutica tem uma narrativa que se desdobra em várias partes. Há um discurso inicial a respeito do que consta em protocolos, manuais, consensos adequados aos diagnósticos obtidos. Mas segue-se o caráter de singularidade do próprio paciente, na medida em que a terapêutica padronizada precisa ser adaptada às condições individuais do paciente. Segue-se ainda uma outra parte que é a terapêutica cotidiana propriamente dita, que diz respeito ao dia a dia da ingesta ou aplicação de medicamentos.
Vemos então que a própria Medicina ou ainda os Cuidados da Saúde convencionais têm já sua narrativa, se nós atentarmos para isso. A prática da Saúde muito automatizada ou grandemente imbuída de tecnologia fez que se perdesse o caráter narrativo desse campo de atuação. A Medicina Narrativa vem resgatar, renovar e adaptar a novas instâncias as narrativas já presentes nas práticas convencionais. 
Além disso, o recurso a outras fontes de conhecimento e de outras narrativas pode acrescentar novos elementos a esse estudo e essa prática. Assim, Ciências Humanas e mesmo as assim chamadas Ciências Exatas podem acrescentar novos elementos narrativos ao âmbito Saúde/Doença. Também aspectos culturais os mais diversos podem trazer elementos enriquecedores para a Medicina Narrativa.
Além de todos esses fatores é importante relembrarmos os precedentes da Medicina Narrativa que vieram de estudos de “Literatura e Medicina” que chamaram a atenção de Dra. Rita Charon para as pontes existentes entre esses dois campos. Assim ela se expressou a respeito da criação do nome desse campo: “O nome ‘Medicina Narrativa’ veio à mim como um termo único para significar uma prática clínica configurada pela teoria e prática de ler, escrever, contar e receber histórias”. 
Outro aspecto interessante é assinalarmos que o que pode ser chamado como “Medicina Baseada em Narrativa” faz interfaces com a consagrada “Medicina Baseada em Evidências” (ver, por exemplo, artigo de Kalitzkus e Mathiessen de 2009).
A própria Medicina Baseada em Evidências tem uma janela aberta a aspectos narrativos. Conforme vemos abaixo no diagrama (Cochrane.org), a prática da Medicina Baseada em Evidências tem três aspectos que se interseccionam: as melhores evidências científicas, a capacidade clínica do profissional, os valores e expectativas do paciente.
               
Conforme a figura abaixo do British Medical Journal, outras palavras para abordar os mesmos três aspectos são: evidência científica relevante, julgamento clínico e valores e preferências do paciente.

Conforme vimos em ambos os quadros há espaços para a Medicina Baseada em Narrativa fazer interconexões com a Medicina Baseada em Evidências. Das três seções a que tem mais possibilidade de dar espaço à narrativa corresponde a “valores e preferências do paciente”. Neste campo, a abertura para que a relação profissional/paciente possa ser alimentada pela prática narrativa é notável. Também o campo do “julgamento clínico” pode se valer de prática narrativa que aprimore seu procedimento.
Agora, para aprofundarmos a discussão a respeito de Saúde/Doença, vamos abordar um tema que temos repetido periodicamente em vários cursos que é o “Conceito Ampliado de Saúde”. Para isso, vamos olhar o conceito de saúde a partir da tradição ocidental.
Primeiramente entre os Gregos.
Para Pitágoras (570-495 a.C.) e pitagóricos, para Hipócrates (460-370 a.C.) e seus seguidores, Saúde é o EQUILÍBRIO entre os humores do corpo (sangue, fleugma, bile negra, bile amarela) e entre os elementos da natureza (fogo, terra, ar, água).
Assim, os tratamentos que prescreviam eram: dietas, exercícios, meditação, música, etc.
Entre os Romanos, ao mesmo tempo em que se manteve a influência dessa tradição, atingindo Galeno, entre outros, surgiu um conceito de saúde que se sintetizou em uma frase proferida pelo poeta Juvenal no século I d.C.: “Mens sana in corpore sano”. Ou seja, mente sã em corpo são. Esta noção repete o conceito Grego, mas inserindo a ideia de mente e de corpo, indicando já uma divisão que séculos depois será atribuída a Descartes.
Sem querer entrar em outros tantos detalhes históricos, pois esse não é o escopo principal desta aula, vamos dar um salto mais adiante à transição do século XVII para o século XVIII.
Antes disso vamos mencionar uma frase bastante tradicional de origens que remontam a Hipócrates e os hipocráticos: “Não existem doenças, existem doentes”. Essa frase já foi atribuída a diversos autores, mas o fato é que ela acaba se reportando a Hipócrates e os hipocráticos, na medida em que se buscam seus precursores.
No século XVIII, Johann Peter Frank (1745-1821) deu início à Saúde Pública, no cuidado à população.
No início do século XIX, Bichat (1771-1802) lançou a ideia de “sistemas” em relação às partes do organismo.
Ainda no mesmo século Claude Bernard (1813-1878) criou a conceituação de meio interno e meio externo em relação aos seres vivos.
Rudolph Virchow (1821-1902) nesse mesmo século lançou a ideia de patologia celular, deslocando a noção de doença para as células do organismo.  
No século XIX Louis Pasteur (1822-1895) descobriu a correlação entre doenças e microrganismos, trazendo todo um novo paradigma para a medicina. 
Já no século XX, Walter Bradford Cannon (1871-1945) deu configuração ao conceito de Homeostase como equilíbrio entre meio interno e meio externo iniciado por Claude Bernard.
Também no século XX, Hans Selye (1907-1982) lançou a ideia de “stress”.
Temos também neste século: “A Saúde é a vida no silêncio dos órgãos”. Famosa frase de René Leriche (1879-1955).
Em meio ao caminhar desses conceitos, o processo de entendimento da saúde mental resumidamente caminhou de Pinel (1745-1826) a Freud (1856-1939) e Kraepelin (1856-1926), em um percurso entre conceituações mais ou menos organicistas.
Apesar disso tudo: “Mens sana in corpore sano” continua sendo uma maneira simples de expressar saúde, ao mesmo tempo em que mantém certa dicotomia.
Finalmente, em 1948, a Organização Mundial de Saúde lançou o Conceito de Saúde que tem sua aplicação geral como: “pleno BEM-ESTAR físico, mental e social”. Ou seja, já se tinha então a noção de que saúde não é apenas ausência de doença. Vê-se nessa conceituação a ideia de saúde como algo associado a “bem estar”. A situação de diversos traumas ligados às duas grandes guerras conduziu a uma política de promoção de “bem estar” às populações, de modo que a ideia de saúde se amplia de bem estar físico e mental (mens sana in corpore sano) para também uma ideia de “bem estar social”, o que implica a noção do coletivo, em que se incluem práticas de prevenção, como, por exemplo, vacinação, e de promoção de saúde pública.
No fim do século XX, o conceito de saúde da OMS torna-se insuficiente para compreender todas as condições de “bem-estar” e de “mal-estar” que surgem a partir dos anos 1960, quando, juntamente com os movimentos de contracultura, novos caminhos são propostos para configurar essas ideias, incluindo conceitos provindos de culturas orientais e indígenas. Portanto, buscaram-se formulações do conceito de saúde que pudessem abranger outras condições.
Na Conferência de Ottawa da OMS (1986) surgiu uma ideia de PROMOÇÃO DA SAÚDE, inserindo variáveis CULTURAIS no processo saúde/doença, bem como nessa ideia de promoção. A partir dessas ideias, também se procurou estudar as correlações entre saúde/doença e espiritualidade.
Assim, tem-se então um Conceito Ampliado de Saúde que contempla aspectos culturais ligados ao binômio saúde/doença.
No ano de 2001, elaboramos uma forma de trabalhar o Conceito Ampliado de Saúde a partir de um quadro do filósofo Ken Wilber, no livro “The Eye of Spirit”, onde ele apresenta um quadro a respeito dos campos do conhecimento humano. Esse quadro deu-nos a ideia de substituir os campos do conhecimento por campos de saúde, mantendo as colunas como interior e exterior e as linhas como individual e coletivo. Na intersecção entre esses diferentes campos têm-se então para o individual exterior o campo físico (ou biológico) da saúde; na intersecção entre interior e individual, têm-se a saúde psíquica (ou mental); no quadro equivalente ao coletivo exterior têm-se o campo “social” da saúde; na intersecção entre coletivo e interior têm-se o campo “cultural”. Temos então para o campo “físico” a dimensão “objetiva”; no campo “psíquico”, a dimensão “subjetiva”; no campo “social”, a dimensão “interobjetiva”, no campo “cultural” a dimensão “intersubjetiva”. Mais frequentemente existe a tendência de reducionismo da saúde/doença do indivíduo ao campo “físico”. No entanto, bem estar e mal estar podem provir de qualquer de um dos campos e pode influir os outros três no sentido de melhorar ou de piorar.

Ainda pode-se considerar a possibilidade de um quinto campo decorrente de todos os outros quatro que pode ser chamado de “campo ambiental”, onde se entende meio ambiente como o que diz respeito tanto ao interior como ao exterior dos indivíduos e das comunidades, bem como a ideia de “ambiência”, onde o meio ambiente ecológico encontra intersecção com o ambiente cultural.

A Medicina Narrativa se estabeleceu concomitantemente à ampliação do conceito de saúde na transição do século XX para o XXI.
Além disso, a construção e o aprimoramento COGNITIVO dos profissionais, a partir de narrativas, permitem a percepção de uma visão ampliada de saúde.


quinta-feira, 1 de junho de 2017

Parte 2 da aula 1: Curso "Medicina Narrativa: processo interdisciplinar no cuidado à saúde"


Conforme a Profa. Dra. Rita Charon, da Universidade de Columbia, a Medicina Narrativa é uma medicina praticada com competência narrativa para reconhecer, absorver, interpretar e ser tocado pelas histórias (estórias) de doenças (e de doentes).
A Medicina Narrativa busca:
-          Aumentar a capacidade de percepção clínica.
-          Levar a um cuidado mais humano, mais ético e mais efetivo.
A Medicina Narrativa provém dos seguintes campos:
- Humanidades e Medicina
- Cuidados Primários em Medicina
- Narratologia contemporânea (que é o estudo de estruturas e de elementos das narrativas)
- Estudos de relação médico-paciente.
- Literatura e Medicina
- Cuidado centrado no vínculo indivíduo/comunidade/profissional da saúde
O estudo da Medicina diz respeito ao estudo do ser humano. Tudo o que se estuda em Medicina, e além dela, vai, gradativamente, configurando o que se entende por “ser humano”.
Profissionais da saúde precisam de meios para:
-          Singularizar o cuidado ao paciente
-          Reconhecer/perceber a ética profissional e os deveres pessoais ao doente
-          Produzir “correlações terapêuticas” com pacientes, entre profissionais e com o público.
Hoje em dia, a falta de singularidade, humildade, responsabilidade, empatia pode ser provida, em parte, pela Medicina Narrativa.
A atividade da medicina narrativa é compatível com uma prática multiprofissional.
O que é multiprofissional pode ser multidisciplinar ou interdisciplinar. Cada um desses conceitos tem suas particularidades e tem suas intersecções.
Multidisciplinaridade: é o que já está presente desde Aristóteles. Corresponde a cada área do Conhecimento com sua linguagem e seu método.
Interdisciplinaridade: permite uma permuta de linguagens e de métodos, ou ainda a adoção da mesma linguagem e método por diferentes campos do Conhecimento.
Transdisciplinaridade: diz respeito mais a uma “metalinguagem” e “metamétodos”, ou seja, transversaliza diferentes campos do Conhecimento, mas ao mesmo tempo sem o tipo de envolvimento da interdisciplinaridade, já que aborda “linguagem e método” do “lado de fora”, ou seja sem submeter-se às condições e normas de linguagem e método dos campos. A transdisciplinaridade também inclui “culturalidade”, ou seja, admite no processo de Conhecimento as variáveis culturais. Também a transdisciplinaridade, por suas características, concilia paradoxos.
São 3 os pilares da transdisciplinaridade:
1 –Níveis de Realidade.
Deve-se admitir que a abordagem do Real pode acontecer em diferentes níveis de realidade, de modo que em cada nível há condições próprias. Não se pode reduzir todo o fenômeno a apenas um nível de realidade. Assim, este pilar também propõe uma atitude de “anti-reducionismo”. Se, por exemplo, levarmos para o âmbito do ser humano, podemos ver que “ser humano” não se reduz ao nível da realidade biológica, mas há outros níveis de realidade, como cultural, social, entre outros, que vão compor a realidade do indivíduo.
2 – Complexidade.
A Complexidade também é anti-reducionista.
Uma forma de entender a complexidade é a frase:      
“O todo é mais do que a soma das partes”.  Assim, mesmo que se juntem todas as partes não se tem um todo. Isso porque o todo implica em alguma coisa a mais do que apenas se ter as partes. Passa a estar presente também o vínculo entre as partes, os fatores que unem as partes, a energia, os desdobramentos provenientes da existência desse todo que articula essas partes.                  
3 – Terceiro incluído.
O terceiro incluído segue uma lógica diferente do “terceiro excluído”. Neste, em uma configuração lógica onde A e B não se correlacionam, o terceiro excluído corresponde a um não-A e não-B.
Já no terceiro incluído não-A e não-B pode implicar em um C que possa harmonizar não-A e não-B em convivência simultânea. Os autores dão como exemplo dessa situação a conceituação física quântica de “quanta”. Isso acaba resolvendo a dicotomia entre as possibilidades de um fóton ser partícula ou de ser onda. No quanta essas duas possibilidades convivem em um nível de realidade acima de ambos. Assim admite paradoxos. Vai além dos pares de opostos.
Como uma espécie de quarto pilar temos a culturalidade já citada.
A Medicina Narrativa é:
-          Um reforço à anamnese tradicional
-          Uma recuperação do valor dessa anamnese no século 21.
-          Educa uma escuta focada e o olho clínico que direcionam as decisões baseadas em evidência.
Protocolos médicos são boas ferramentas em mãos de quem raciocina a respeito de sua aplicação, adapta-os à singularidade do paciente e de sua cultura.
Isso é possível a partir de uma boa anamnese, e do exercício narrativo.
A Medicina Narrativa pode aprimorar no profissional de saúde a percepção de quando e quanto deve acrescentar de dados à anamnese, permitindo conhecer aspectos da vida do paciente que podem interferir no processo saúde/doença, e usualmente passam despercebidos. 

sábado, 27 de maio de 2017

Aula 1 do Curso "Medicina Narrativa: Processo Interdisciplinar em Saúde" Parte 1


     Este curso está inserido no Setor de Neuro-Humanidades da Disciplina de Neurologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo.
    O Setor de Neuro-Humanidades trabalha com as intersecções entre Neurociências e Ciências Humanas. No sentido amplo do termo, Neurociências, no plural, é uma designação que engloba os diversos campos de estudo com o prefixo “neuro”, além da Neurociência, no singular, propriamente dita, que se refere mais propriamente à Ciência Básica de Pesquisa assim denominada.
     Então, Neuro-Humanidades diz respeito a interfaces entre áreas “Neuro” e os campos de estudo como Filosofia, História, Sociologia, Antropologia, Letras, Literatura, etc. Portanto, trata-se de um campo “interdisciplinar”.
    Neste campo, trabalhamos com algumas ideias básicas que nos orientam. Para nós não existe processo ou evento humano que seja “a-histórico” ou “a-psicológico”, ou seja, não se pode desvencilhar qualquer campo do Conhecimento da História e da Psicologia. A história humana e a psique humana estão em qualquer processo humano. Afirma-se isso porque, eventualmente pensa-se que a Ciência (principalmente as Hard Sciences) seria algo que se faria por si, acumulando conhecimentos científicos, independentemente da história humana e da psique humana, sem depender de outros fatores que não seus próprios parâmetros.
     Também em Neuro-Humanidades colocamos que não temos nem a única, nem a última palavra, sobre qualquer coisa. Os diversos campos de Conhecimento podem usar os mesmos termos para significar coisas diferentes dentro de linguagem e contextos próprios da cada um desses campos. Deve-se situar o contexto e outros fatores dentro dos quais se esteja inserindo determinado termo ou conceito. Além disso, frisamos que não temos todas as respostas. Se ao fim de determinado estudo chegarmos a formular alguma pergunta, já pode ser um avanço em nosso estudo, mais do que a própria resposta. O filósofo Henri Bergson dizia que quando formularmos nossos próprios problemas, seremos livres. Ele quis dizer que, em geral, somos treinados para trazer soluções a problemas que já nos chegaram com esse título, “problema”, e já assim estruturados. Precisaríamos aprender a verificar se realmente se trata de um problema e estruturar a configuração do problema. Deveríamos perguntar: 1 - realmente existe esse problema? 2 - Se existe, qual seu contexto? 3 - qual a real dimensão do problema? Assim, a formulação de perguntas pode já significar um entendimento do processo estudado. Ao se estudar algum assunto, não necessariamente deve-se chegar a todas as respostas, mas eventualmente descobrir ou propor caminhos.
     Em Neuro-Humanidades interessa-nos mais os vínculos, as ligações, os processos entre as coisas, do que as próprias coisas. Mais os processos do que os fatos. Em nossa cultura temos forte influência do Positivismo do século XIX. A ciência positivista baseia-se na constatação de fatos e que esses fatos seriam indiscutíveis e que se caminha de comprovação em comprovação crescente na acumulação de conhecimento. Mas, a formação atual do Conhecimento, principalmente do Conhecimento Médico vem a partir da Medicina Baseada em Evidências, evidências essas que não são necessariamente fatos, mas decorrências de estudos diversos associados a Bioestatística e Epidemiologia. Na interface de Neuro e Humanidades o foco mais nos processos do que nos fatos procura estudar elementos menos focalizados nos estudos habituais.
     Finalmente, a “linguagem”. Para nós a linguagem é fundamental, não só a linguagem verbal, mas todas as formas de linguagem. No entanto, a linguagem verbal assume importância singular na medida em que com ela se constrói toda forma de Conhecimento, incluindo o conhecimento “Neuro”. A linguagem precede até mesmo a noção de conceituações neurológicas básicas. Antes vem a linguagem, depois vêm os conceitos. “Ser Humano, Linguagem, Cultura” são três elementos associados desde o início de sua existência. Cada um desses três fatores está fortemente e indissoluvelmente ligado aos outros dois.  Comer, beber, dormir, procriar são atividades básicas das diferentes espécies animais; mas no ser humano cada um desses fatores está sempre marcado pela Cultura, por elementos culturais; a Cultura que é fruto da convivência comunitária de seres humanos desde os primórdios em que se possa referir a “ser humano”. A conceituação de “ser humano” sempre implica em “comunidade”, de onde provém “a cultura”. Associada a ambos está a “linguagem”.
     Assim, a linguagem é a principal ferramenta, mas também pode ser obstáculo ao Conhecimento. Sua capacidade, suas possibilidades são também seus limites.
     Para ilustrar isso podemos lembrar uma passagem de Thomas Kuhn em sua coletânea póstuma “Depois da Estrutura”. Ele, que tinha formação em Física, ao estudar Aristóteles, achou estranho o conceito aristotélico de “movimento”. Em primeiro momento achou que Aristóteles nada entendia de Física. Mas depois ele veio a entender que “movimento” para Aristóteles tinha outro sentido: para ele, por exemplo, a metamorfose na natureza, de larva em borboleta, era um “movimento”. Ou seja, a ideia de movimento englobava também formas de transformação. A partir daí, Kuhn passou a respeitar Aristóteles e esse foi um dos elementos que o levaram a configurar sua ideia de “incomensurabilidade de paradigmas”, na medida em que eles usem diferentes linguagens e métodos.
     Outro aspecto sobre a linguagem diz respeito à importância da metáfora para o Conhecimento. A metáfora permite a passagem de palavras entre diferentes campos do Conhecimento, mas com sentidos associados, não exatamente os mesmos de seu campo de origem. Podemos pensar, por exemplo, nas diversas passagens da palavra “célula” desde sua origem como “pequena cela” quando vista pela primeira vez pelo microscópio por Robert Hooke, que associou o que via a “pequenos cômodos” que chamou então de células. Daí para diante esse termo percorre diversos campos do Conhecimento e mesmo da linguagem coloquial.
     Tendo visto esta introdução a respeito de alguns conceitos básicos para os estudos em Neuro-Humanidades, passemos então a falar da Medicina Narrativa como uma prática interdisciplinar na área da Saúde.
     Ao falarmos de “interdisciplinaridade” devemos entender esse termo. Ele costuma ser estudado com os termos Multidisciplinaridade e Transdisciplinaridade. Multidisciplinaridade é uma associação de disciplinas que segue um modelo que iniciou-se com Aristóteles, embora ele mesmo não usasse esse termo; essa é uma conceituação que surge no século XX, a respeito do Conhecimento no sentido amplo do termo. Na Multidisciplinaridade cada disciplina fica com seu método e sua linguagem, havendo apenas algum contato entre disciplinas. É o modelo tradicional, convencional da maioria das escolas. Já a interdisciplinaridade implica em uma permuta de linguagens e métodos. A transdisciplinaridade não é um degrau acima de multi e interdisciplinaridade. A transdisciplinaridade transversaliza as outras duas formas de associação de disciplinas, de modo que trabalha mais com uma espécie de metalinguagem e de “metamétodo”; na transdisciplinaridade a cultura, ou a culturalidade sempre é levada em consideração.
     Visto isso, afirmar que a Medicina Narrativa é uma área interdisciplinar implica em que permite a permuta de linguagens e métodos entre diferentes áreas do Conhecimento ligadas à saúde. Ao falarmos área da Saúde também podemos ampliar essa designação para saúde/doença, na medida em que ambas têm sua fundamentação de forma mútua, embora não sejam exatamente equivalentes.
    A ideia de saúde/doença surgiu para o ser humano a partir da constituição do próprio “ser humano”, naqueles primórdios já referidos, em que se tem ser humano, linguagem e cultura surgindo associados. Dessa forma, a percepção de “sofrimento e dor” passou a ser algo presente a partir do momento em que se tem “ser humano no mundo”. Pode-se eventualmente alegar que os animais também sofrem; o que é certo. Mas, mesmo esta conceituação vem do ser humano que pensa a esse respeito. Assim a percepção e elaboração de alguma coisa que passa a ser nomeada como “sofrimento ou dor” é algo próprio do ser humano. “Nomear” é algo próprio do ser humano. Assim também a verbalização sobre o binômio saúde/doença.
     Frisamos que sempre ensinamos que “não existem doenças, existem doentes”. Isso significa que doenças são resultado da abstração médica a partir de sinais e sintomas. Sinais e sintomas similares podem significar uma doença em um século e outra doença em outro, porque ambas são construídas a partir do contexto histórico presente de cada uma.
     Assim como o ser humano “nomeia” com sua linguagem verbal, mas também a partir da percepção de outras linguagens, ele discorre verbalmente a respeito dos eventos que o cercam. Usualmente e inicialmente a partir de noções de espaço e de tempo. Sempre o ser humano narra sucessivamente e comparativamente os eventos de sua vida e de sua comunidade desde os tempos primordiais. Assim se constituíram as narrativas. Entre elas, as narrativas das doenças. Talvez, paradoxalmente, as narrativas de doenças tenham precedido as narrativas de saúde, já que na medicina as doenças são abstrações. No entanto, em tempos primordiais as “doenças-narrativas” tinham certos significados dentro do mundo cotidiano dos seres humanos de modo algo diferente da conceituação científica de doença.
     Deixemos este debate para outra oportunidade. Agora comentemos um pouco sobre Medicina Narrativa.
      O termo Medicina Narrativa foi criado pela Profa. Dra. Rita Charon, professora de Medicina na Columbia University em Nova York, no ano 2000. A criação desse termo veio após longa vivência como médica e professora, bem como a partir de contato com área da Literatura, onde fez Doutorado. No ano de 2009 ela teve aprovado o programa de Mestrado em Medicina Narrativa na mesma Universidade.