Prof. Dr. Afonso Carlos Neves
Preâmbulo: O uso das palavras...
Thomas Kuhn em “Depois da estrutura” (1996) refere ter descoberto que o sentido
da palavra “movimento” em Aristóteles é diferente do sentido que essa palavra tem
em Física. P. ex., para Aristóteles, a metamorfose de larva em borboleta é um
tipo de “movimento”.
Assim ele fala em “Incomensurabilidade de diferentes ou sucessivas teorias”.
Nesse sentido, a
linguagem precede as teorias, embora seja também modificada pelas próprias
teorias.
A palavra “História”:
Provém de vocábulo grego equivalente a “testemunho”, sendo o nome da obra de Heródoto
(484-420 a.C.), tradicionalmente chamado de “Pai” da História.
A História como
narrativa de testemunhos se mantém até o século XVII. Nesse período inicia-se o
estudo crítico de documentos em 1681 com o monge Mabillon (1632-1707) e sua
obra De re diplomática, que trata de
análise crítica de documentos antigos. Juntamente com ele trabalhou também
Daniel Papebroch (1628-1714). Concomitantemente formaram-se os jesuítas bolandistas
(Jean Bolland), com estudos sobre hagiografia (vida dos santos).
Em 1685 Richard Simon (1638-1712) inicia uma história crítica da Bíblia.
Os “Enciclopedistas” aparecem no Século XVIII, com os Iluministas. Denis
Diderot (1713-1784) é o principal responsável pela primeira encoclopédia
moderna a “Encyclopédie” (1750-1772).
Jules Michelet (1798-1874) no século XIX faz uma História Narrativa extensa de
cunho anticlericalista. Começa a escrever em 1825.
Marc Bloch (1886-1944) e Lucien Febvre (1878-1956) em 1929 começam a “Nova
História”. Fundaram a Escola dos “Annales” com a revista “Annales d’Histoire
Économique et Sociale”. Lançam um olhar sobre aspectos menos vistos pela
História Convencional. Realçaram uma “psicologia dos testemunhos”.
Nos anos 1960 inicia-se uma História das mentalidades, tendo entre seus nomes
Michel Foucault (1926-1984) e Carlo Ginzburg (1939- ).
A Periodização histórica foi algo criado, em geral, tempos depois daquilo de
que ela trata. Assim, os renascentistas e principalmente os iluministas e
pós-iluministas criaram a imagem da Idade Média como Idade das Trevas , com
apenas ignorância e seus desdobramentos. As pesquisas nas últimas décadas têm
mostrado que essa visão é equivocada. Atualmente sabe-se que havia ciência na
Idade Média.
A periodização
histórica começou com Petrarca e Bruni no século XIV e se consolidou nos
séculos XVII e XVIII a partir de Cristoph Cellarius (1634-1707).
De maneira mais
convencional podemos considerar:
Periodização
pré-histórica:
500 mil a 10 mil a.C – Paleolítico.Idade da Pedra Lascada.
(20 mil a 10 mil a.C. – mesolítico?).
10 mil a 4 mil a.C. – Neolítico.Idade da Pedra Polida.
Sedentarismo. Agricultura. Criação de animais.
Idade Antiga: 4000 a.C. – 476 d.C.
do início da Escrita ao fim do Império Romano do Ocidente
Idade Média: 476 – 1453 d.C.
Do Fim do I.R. do Ocidente ao fim do I.R. do Oriente
Idade Moderna: 1453 – 1789 d.C.
Do Fim do I.R.Oriente à Revolução Francesa
Idade Contemporânea: após 1789.
Periodização pré-histórica:
500 mil a 10 mil a.C – Paleolítico.Idade da Pedra Lascada.
(20 mil a 10 mil a.C. – mesolítico?).
10 mil a 4 mil a.C. – Neolítico.Idade da Pedra Polida.
Sedentarismo. Agricultura. Criação de animais.
1789 – início da IDADE CONTEMPORANEA
Século XIX:
A palavra MODERNIDADE é conceituada por Baudelaire caracterizando o que é
fugaz, passageiro.
Nesse período surgem: Revolução Industrial, aprimoramento da Tecnologia, nova urbanização.
Como contraponto aparece o movimento do Romantismo, com nostalgia por elementos
medievais.
Hegel, filósofo idealista, fala do “moderno” na história. O Romantismo aparece
em um tempo de “ideais” como contraponto à Revolução Industrial e às novidades
científicas na transição do século XVIII para século XIX.
Pode-se
considerar que um Período Moderno ocorreu de 1800 a 1950.
A Pós-Modernidade foi conceituada por Lyotard, como sendo um período a partir
dos anos 1950.
O tempo Pós-Moderno se caracteriza então por ser um tempo das “eficiências”, do
“pragmatismo”, de “resultados”.
As duas primeiras
décadas do século XXI têm sido um período de transição para um período
Pós-pós-moderno, na medida em que eficiência, pragmatismo e resultados não têm
dado conta das questões atuais.
A palavra Ciência vem de Scientia :
é um termo técnico em Descartes que vem do verbo latino scire para “conhecer”.
Refere-se em Descartes à obtenção de uma ciência unificada (séc. XVII).
Ele define scientia como “cognição
certa e evidente” (Regra II das Regulae).
Põe o raciocínio contra a “sabedoria acumulada”.
Já anteriormente a ele, Scientia em
S. Tomás de Aquino estava submetida à Lógica Aristotélica (Escolástica).
Com o gradual uso
das línguas vernaculares no lugar do latim para o discurso científico, a
palavra Scientia, ao ser traduzida
passou a ser utilizada cada vez mais com o sentido que tem atualmente como um
tipo de Conhecimento decorrente do Método Científico.
A História da
Ciência inicia-se praticamente no século XX.
Inicialmente teve-se a História “Whig”:
Termo atribuido em 1931 por Herbert Butterfield a uma história
que acredita em uma marcha evolutiva inevitável para o progresso
através da ciência.
Outros conceituadores em Filosofia e História da Ciência tiveram ideia um pouco
diferente.
Gaston Bachelard (1884-1962) questionava a história da Ciência linear e as
tendenciosidades dos cientistas. Algumas obras:
1934 – “O novo espírito científico”
1938 – “A formação da mente científica”
Georges Canguilhem (1904-1995), médico e historiador:
1943 – “O normal e o patológico”
1952 – “O conhecimento da vida”
Karl Popper (1902-1994). Filósofo da Ciência, escreveu em 1934 “A Lógica da Descoberta Científica”.
Propunha um racionalismo crítico frente á Ciência e o seu conhecido critério de
falsificabilidade para identificar o que seria científico.
Alexander Koiré (1892-1964) questionava a imparcialidade dos cientistas.
Escreveu em 1939 – “Estudos galileanos”.
Conceituação de Paradigma:
Paradigma é um
termo que já existia como sinônimo de “modelo”.
O físico Thomas S. Kuhn (1922-1996) em “A Estrutura das Revoluções Científicas”
(1962-1970) estabelece conceito de paradigma científico:
“Considero ‘paradigmas’
as realizações científicas
universalmente reconhecidas que,
durante algum tempo,
fornecem problemas e soluções modelares
para uma comunidade
de praticantes de uma ciência”.
Assim ele refere que o Paradigma é como um Quebra-cabeça:
Só se pode fazer perguntas (problemas) dentro do modelo.
Só se pode fornecer respostas (soluções) dentro do modelo.
Por algum tempo, o paradigma dá conta das perguntas, no período de “ciência
normal”, quando se repetem os seus métodos.
Chega um momento em que alguém começa a formular perguntas (problemas) que não
cabem no quebra-cabeça (modelo).
Esse indivíduo é considerado excêntrico, louco, de competência duvidosa, “um
poeta”, etc.
Um conflito pode estar presente na linguagem e/ou no método,
tanto da formulação do problema quanto na busca/proposta de solução.
Com a
conceituação de paradigma científico por Thomas Kuhn, passa-se de uma visão de
história da Ciência simplesmente linear e cumulativa para uma noção mais
dinâmica e contextualizada.
Outras visões dentro de Sociologia e História da Ciência:
Anos 1970 – “Programa Forte” da Sociologia da Ciência.
David Bloor, Barry Barnes, Harry Collins, Donald MacKenzie, John Henry.
A – Causalidade: condições
psicológicas, sociais, culturais.
B- Imparcialidade: examina sucesso e insucesso
C- simetria: mesma explanação para ambos
D – reflexividade: aplicável à sociologia.
Anos 1980 –
Teoria Ator-rede (Actor-network theory)
Michel Callon, Bruno Latour, John Law.
Valoriza o papel dos “não-humanos”
na ciência.
Adentra ao laboratório para investigar o dia a dia do cientista e dos
“não-humanos” presentes na atividade científica.
História da Ciência e da Medicina:
História internalista: a história feita pelos membros de uma disciplina
científica, muitas vezes para edificar a identidade do grupo.
História
externalista: a história de um campo científico feita por historiadores com
métodos próprios de Ciências Humanas. P. ex.:
Canguilhem; Foucault; Puertas; Porter; etc.