segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Neuro-Humanidades


     O prefixo “neuro” tem sido bastante usado nas mais variadas condições, procurando associar o conhecimento do campo neurológico e de neurociências a outras áreas de estudo.
     No caso de “Neuro-Humanidades” faz-se a correlação entre o campo “Neuro” e as Ciências Humanas, que também são chamadas de Humanidades. Em relação especificamente a esta associação pode ser interessante nos remetermos às palavras do neurocientista e filósofo contemporâneo Henrik Walter: 
“A Neurociência tornou-se tão importante para a Filosofia Contemporânea
 quanto foram a Física e a Teoria da Evolução para a Filosofia Moderna passada”.

E também outro texto de Henrik Walter:
As questões filosóficas inevitavelmente aparecem
em certo estágio do trabalho científico
mesmo que os cientistas envolvidos prefiram ignorá-las.
Isso é principalmente verdade em qualquer ciência que investigue o ‘órgão da alma’”.

     Na verdade, Neurociências, no sentido amplo do termo, investiga tópicos clássicos da Filosofia, como: consciência, pensamento, significado e sentido, linguagem, estética, morte, entre outros.

     Na nossa maneira de entender a correlação entre “neuro” e humanidades” consideramos a “linguagem” como um elemento, um fator básico a todo conhecimento. “Ser humano, cultura e linguagem” são três fatores estreitamente ligados e indissociáveis desde o início da humanidade. A base de todo conhecimento é a linguagem.
     Há quem diga que “os neurotransmissores” são a base de todo o conhecimento. Mas, devemos lembrar que “neurotransmissor” é um nome dado, dentro da linguagem científica, a determinadas substâncias que preenchem determinados critérios que também são determinados por meio da linguagem. Não há como escapar da linguagem como fator básico do conhecimento.   
     O conhecimento a respeito do neurotransmissor é elaborado a partir de pressupostos bioquímicos que configuram esse neurotransmissor. Se um novo conhecimento físico e energético do neurotransmissor modificar a maneira de compreendê-lo, já se estará sob um novo paradigma para o entendimento desse mesmo neurotransmissor. Talvez ele até ganhe um novo nome. Nessas condições, se estará novamente diante de toda uma nova linguagem que vai explicar esse novo paradigma. Assim, dizemos: não há como escapar da linguagem como fator básico do conhecimento.
     Em Neuro-Humanidades também dizemos que não temos nem a única e nem todas as respostas para as perguntas que aparecerem. Uma mesma pergunta pode ter diferentes respostas, dependendo do contexto em que ela estiver sendo formulada. Uma única palavra pode ter vários sentidos, dependendo do contexto em que ela estiver sendo considerada. Não somos os donos absolutos do uso de uma palavra. As diversas línguas são muito ricas, incluindo o português, e assim que também um único conceito pode ter várias palavras, vários nomes, várias formas de ser explicitado.
     De certa forma, interessa-nos mais aprender a elaborar perguntas e problemas do que ter resposta para tudo. O filósofo Henry Bergson dizia que “quando nós formularmos os nossos próprios problemas seremos verdadeiramente livres”. Ele não disse resolver, mas formular o problema, ou a pergunta, porque estamos habituados a já receber um problema como problema, seja matemático ou de outra natureza, de modo que acabamos sendo treinados para apenas acharmos soluções, ficando, assim, presos a toda uma maneira de pensar. Talvez o dito problema, a nós trazido, nem seja um real problema em nosso próprio contexto.
     Um outro fator importante em Neuro-Humanidades é que não há processo humano que seja “a-histórico” ou “a-psicológico”, ou seja, não há processo humano que não tenha história ou esteja inserido na história humana, e também não há processo humano que não esteja ligado, determinado e delimitado pelos elementos psicológicos diversos, incluindo os fatores emocionais.
     Um outro aspecto também em Neuro-Humanidades é que nos interessam mais os vínculos, as ligações, os processos entre as coisas, do que as próprias coisas. Mais os processos do que os fatos.
     De todas essas considerações infere-se que elas implicam em reflexões que envolvem multi, inter e transdisciplinaridade no estudo das correlações entre o “Neuroconhecimento” e as Ciências Humanas.