A Medicina
Narrativa foi criada, com essa designação oficialmente, pela Profa. Dra. Rita
Charon da Columbia University de New York, no ano 2000, como já foi falado. A
Dra. Charon foi influenciada por seu pai, que era médico na cidade de
Providence, nos Estados Unidos, onde fazia uma medicina do tipo que chamaríamos
aqui de “médico do bairro” ou “médico de família”, num sentido mais
tradicional. Antes de optar pela Medicina, Dra. Charon estudou Biologia e
Educação Infantil na Fordham University, tendo se formado em 1970. De 1971 a
1973 foi professora e ativista pela paz. Cursou Medicina na Harvard University
de 1974 a 1978, sendo que completou a Residência Médica em Medicina Social no
Bronx, em New York. Em 1982 começou a lecionar na Columbia University. Em 1999
concluiu doutorado em Literatura Inglesa. No ano 200 começou o Programa em
Medicina Narrativa. Em 2009 iniciou o Mestrado Lato Senso em Medicina
Narrativa.
Nas palavras da
Dra. Charon, Medicina Narrativa é “Medicina praticada com competência narrativa
para reconhecer, absorver, interpretar e ser tocado pelas histórias
(acrescentamos ‘e estórias’) do adoecer (e acrescentamos ‘e dos doentes’).
Com essa prática,
pretende-se: aumentar a capacidade de
percepção clínica; levar a um cuidado mais humano, mais ético e mais efetivo.
A Medicina
Narrativa veio da confluência de:
- Humanidades e Medicina
- Cuidados Primários em Medicina
- Narratologia contemporânea
(estudo de estruturas e
elementos das narrativas)
- Estudos de relação
médico-paciente.
Além desses fatores, acrescente-se:
- Literatura
e Medicina
- Cuidado
centrado no vínculo indivíduo/comunidade/profissional da saúde
Conforme Dra. Charon:
“O nome
‘Medicina Narrativa’ veio a mim como um termo único para significar uma prática
clínica configurada pela teoria e prática de ler, escrever, contar e receber “estórias”.
Medicina Narrativa multiprofissional:
Profissionais da saúde precisam de
meios para:
- Singularizar
o cuidado ao paciente, não só biologicamente.
- Reconhecer/perceber
a ética profissional e os deveres pessoais ao doente.
- Produzir
“correlações terapêuticas” com os pacientes, entre os
profissionais, com o público. Isso significa compartilhar diagnósticos,
decisões, diretrizes.
Hoje em dia, a falta de
singularidade, humildade, responsabilidade e empatia
...pode ser provida, em parte, pela
Medicina Narrativa.
Medicina Narrativa
Interdisciplinar:
O que é multiprofissional pode ser
multidisciplinar ou interdisciplinar.
Conforme já referido anteriormente, uma forma de abordar a convivência
entre diferentes áreas de saúde, ou disciplinas, é considerá-las dentro de
“multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade”. Esses
conceitos não devem ser confundidos com “multiprofissional”, embora possa haver
concomitância entre esses termos. A atividade multiprofissional pode ser multidisciplinar
ou interdisciplinar. Ambas as formas de convivência têm seus espaços no processo
de conhecimento e de aplicação prática do conhecimento. No sentido buscado pelas
práticas narrativas, a atividade multiprofissional aproxima-se mais do processo
interdisciplinar, na medida em que procura afinar a linguagem entre os
diferentes profissionais. Mas há uma oscilação entre multidisciplinar e
interdisciplinar, o que não significa um problema. Essa oscilação pode ser
colaborar no processo de crescimento da atividade narrativa em interface com a
prática profissional em saúde.
A Medicina Narrativa pode também representar uma recuperação do papel da
anamnese no século 21. O trabalho com as práticas narrativas não significa uma
volta à medicina do século XIX, quando praticamente não havia exames
subsidiários. A Medicina do século 21, com sua tecnologia, pode muito bem se
servir das práticas narrativas, inclusive na própria anamnese, agora atenta a
novos paradigmas e acréscimos ao processo diagnóstico.
Protocolos médicos são boas ferramentas em mãos de quem raciocina a
respeito de sua aplicação, adapta-os à singularidade do paciente e de sua cultura.
Isso é possível a partir de uma boa anamnese, e do exercício narrativo. O uso
do treino narrativo no atendimento em saúde não implica em necessariamente
despender muito mais tempo de atendimento ou de ouvir uma extensa
história/estória do paciente, mas estar atento e aberto à percepção/recepção de
algum dado ou fator que esteja além do convencional e que possa ser importante
no processo saúde/doença/adoecer em questão.
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