sábado, 20 de agosto de 2011

Curso "Humanização da Medicina e seus Mitos" - Aula 2 - Novo Humanismo e Transhumanismo


Curso “Humanização da Medicina e seus Mitos”
Aula 2 – Parte 1 -  “Novo Humanismo – Transhumanismo”
Prof. Dr. Afonso Carlos Neves


Novo Humanismo
O autor David Cave em sua obra “Visão de Mircea Eliade para um Novo Humanismo” refere que Eliade detecta uma dimensão essencial do ser humano para o que ele, Cave, chama de  “um novo Humanismo” e que pode servir para abordar alguns aspectos referentes ao debate sobre o binômio “humanização/desumanização.em Saúde”. Assim, no discurso de Eliade referente a várias dimensões do ser humano que ele nomeia como: homo religiosus, homo sapiens, homo faber, homo ludens, homo loquax – Cave destaca o homo religiosus como uma instância do ser humano que o predispõe à necessidade de religar-se com o Todo. Esse aspecto está ligado a um desejo essencial “de ser” dos humanos e de buscar uma condição de “sentido” para a existência.
Comenta-se então que se trata de uma espécie de “postulado arquetípico” do ser humano.
Nesse “Novo Humanismo” de Eliade:
O indivíduo, “isolado e desmitologizado” da cultura moderna, passa a perceber parcialmente mitos e símbolos relacionados à existência humana, de modo incompleto e variado, mas sem preencher satisfatoriamente os pressupostos arquetípicos referentes à condição de homo religiosus.
Essas necessidades se superficializam em ficções, sonhos, festividades, ritos modernos e mitos modernos. Nessas diversas manifestações há certa persistência do um tipo de  caráter “mágico”, ou seja “não racional”, que se associa habitualmente aos mitos, de modo que atividades aparentemente racionais, podem estar carregadas de emocionalidade e de significados agregados além do significado primeiro de cada um desses eventos.

Transhumanismo
A palavra “transhumanismo” pode ter sentidos diversos.
Para Basarab Nicolaesco, físico que participou do Manifesto da Transdisciplinaridade (1994), o termo “transhumanismo” refere-se à condição de “oferecer a cada ser humano a capacidade máxima de desenvolvimento cultural e espiritual”.
Já para Nick Bostrom e David Pearce (1998), transhumanismo diz respeito a “ir além dos limites do humano” usando de todo recurso tecnológico que for possível.
Assim, propõem o uso da tecnologia para expandir as capacidades humanas de maneira ilimitada, supondo uma “superação do humano”.
Ora, desse modo, passa-se de “ser humano” para um ser “ser transhumano”.
Alguns supõem esse processo como uma nova forma de “Eugenia”.
Lembremos que “Eugenia” foi uma doutrina criada por Francis Galton (1822-1911), entre 1865-1883. Trata-se de doutrina influenciada pelo evolucionismo de Darwin, associado a uma teoria das raças que, no século XIX, adquiriu um discurso científico que se reforçava da noção de “seleção natural”. Esse tipo de ideia adentrou diversos campos de estudo, de modo que surgiu o que foi chamado de “Darwinismo social”, o que tendia a valorizar o indivíduo mais favorecido socialmente e a criar “camadas sociais” consideradas “superior” ou “inferior” umas em relação às outras.
Esse processo tornou-se cada vez mais uma ameaça aos mais fracos e vulneráveis.
Desdobramentos históricos desse processo acabaram por conduzir a regimes políticos totalitários e ditaduras que foram responsáveis por terríveis guerras e tragédias do século XX.
Assim, considera-se temerária a possibilidade de todo tipo de manipulação científica sobre o ser humano, de modo que possa “desumanizar” as pessoas nos mais variados sentidos.
Portanto, faz-se cada vez mais necessária a presença da Ética em todo e qualquer processo científico que envolva seres humanos, mesmo que, aparentemente, em um primeiro momento, seja para beneficiá-lo.
A Sociedade precisa estabelecer quais os limites éticos que devem determinar até onde é conveniente a Ciência interferir no que através de milênios configurou-se como “ser humano”.
Entre o Novo Humanismo e o Transhumanismo, no que diz respeito ao cuidado com a saúde, o ser humano fica entre buscar um “passado perdido” no significado mais profundo dos mitos, ou aprimorar-se entre a proposta transhumanista de Nicolesco ou ainda aquela do desenvolvimento tecnológico.  
Há quem fale ainda na possibilidade de um  “pós-humanismo” como superação do “humano”. Essa também seria uma forma de “desumanização”.
Será que uma “Medicina pós-humana”, ou uma espécie de “transmedicina tecnológica” seria ainda uma “medicina do humano”?
Austin Dacey pondera que alguma espécie de “filosofia pós-humanista” proveniente desses referidos processos, no fim das contas, só poderia ser feita por “seres humanos”. No fim das contas, todas essas reflexões são feitas por “seres humanos”.
Outros estudiosos questionam se em uma “ciência pós-humanista” haveria o objetivo de criar espécies “pós-humanas”?
Todas esses debates apontam alguns direcionamentos a respeito do entendimento do binômio “humanização-desumanização” em Saúde.



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