sábado, 28 de maio de 2011

Parte 2 - Multi, Inter, Transdisciplinaridade.

Parte 2 – Multi, Inter, Transdisciplinaridade
Prof. Dr. Afonso Carlos Neves
Podemos dizer que talvez as primeiras “disciplinas” tenham surgido com os filósofos gregos pré-socráticos.  Assim, se conhecemos Tales de Mileto (625/624 – 558/556 a.C.) por seu Teorema, bem como por algumas de suas ideias, supomos que a Escola de Mileto tivesse suas doutrinas em uma ou mais “disciplinas” (matemática? Geometria? Outra?). Em geral conhecemos os pré-socráticos por textos de outros autores posteriores. Assim, é difícil termos uma noção mais precisa sobre essas disciplinas.
Na escola de Pitágoras (571-570 – 497-496 a.C.), centradas nos números havia as disciplinas Aritmética, Música, Harmonia, etc.

Podemos dizer que com Platão (428/427 – 347 a. C. ), que escreveu várias obras, temos melhor noção de disciplinas. Assim, por exemplo, na porta de sua Academia havia a frase: “Aqui só entra quem souber Geometria”.
Com Aristóteles (384 – 322 a. C.) consolidaram-se áreas do Conhecimento em formatos que influenciaram a segmentação em disciplinas. Campos como Lógica, Matemática, Retórica, etc. ficaram consignados.
Na Idade Média as chamadas Artes Liberais foram agrupadas no que foi chamado de Trivium, correspondendo a Gramática, Retórica, Dialética, e no Quadrivium, correspondente a Aritmética, Geometria, Música, Astronomia.

Mais sobre métodos

Como já foi anteriormente mencionado a capacidade de fazer comparações é provavelmente um dos primeiros mecanismos que levaram ao Conhecimento. A percepção de similaridades e diferenças permitiram agrupar ou separar os diversos objetos do Conhecimento. Por sua vez, a constatação de “pares de opostos” pode “refinar um pouco” o método comparativo. Esse sistema de pares de opostos será desafiado pela transdisciplinaridade.
Tais pares de opostos surgem de variadas formas na história do conhecimento em várias epistemologias. P. ex.: a Dialética de Platão ou a Lógica de Aristóteles são métodos comparativos que se exercitam sobre pares de opostos.
(atentemos que o sistema binário é “lógico” e funciona em grande parte, por pares de opostos) 

Na diferença entre Platão e Aristóteles já há “pares de opostos” entre eles. Para Platão, o conhecimento proviria de uma espécie de “recordar” elementos que estariam guardados em um Mundo das Ideias (topos noetos). Já para Aristóteles: Não há nada que aprendemos que não tenha passado pelos sentidos”.
Outra “polarização” entre métodos também poderia estar na diferença entre Francis Bacon e Descartes.
Bacon (1561-1626)postulava o método da Indução, ou seja,  do particular para o geral. Assim, ele funda o Empirismo.
Já René Descartes (1596-1650) lançou o método da Dedução, ou seja  do geral para o particular, fundando assim o Racionalismo.

O inglês John Locke (1632-1704) considerava o papel dos sentidos no Conhecimento de modo semelhante a Aristóteles. Já Immanuel Kant (1724-1804) achava que poderia haver algum conhecimento “a priori” de algumas coisas.
No transcorrer do século XIX surgem outros pares de opostos: Materialismo X Idealismo; Materialismo X Espiritualismo; Organicismo X Vitalismo; Ciências Naturais X Ciências Humanas; Ciências Básicas X Ciências Aplicadas; Clínica X Cirurgia; Conduta médica “conservadora” X Conduta “invasiva”; etc.

Nessa ideia de divisões, costuma-se atribuir a Descartes a “culpa” por ‘dividir para entender’ a partir da obra “Discurso do Método”, mas, antes disso, outros também “dividiram para entender”. P. ex.: Leonardo da Vinci (1452-1519) e Andreas Vesalius (1514-1564) já dividiam o ser humano em partes para entender sua anatomia.
Scientia  é um termo técnico em Descartes (que vem do verbo latino scire para conhecer) que refere-se à obtenção de uma ciência unificada. Essa postura difere daquela que a ele foi atribuída de “dividir”. Define scientia como “cognição certa e evidente”(Regra II das Regulae), opondo o raciocínio contra a “sabedoria acumulada” dos escolásticos.
Scientia em S. Tomás de Aquino era submetida à Lógica Aristotélica (Escolástica). Nesse sentido, Descartes ataca o conceito estabelecido desde Aristóteles, de que: “cada ramo de conhecimento tem seus próprios métodos de investigação e critérios de precisão”. S. Tomás de Aquino dizia que “pode-se ter uma ciência sem se ter outra”.
Para aumentar-se essa polêmica podemos lembrar o dualismo cartesiano entre mente e corpo, também citado como uma espécie de “divisão maléfica” para o Conhecimento.

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