domingo, 8 de maio de 2011

Conhecimentos e Ciências

Conhecimentos e Ciências: um brainstorm.
 
Prof. Dr. Afonso Carlos Neves
 
O título deste trabalho no plural já indica que consideramos a possibilidade de “vários conhecimentos e várias ciências” e, portanto, não apenas uma única forma de apreensão e compreensão de si e do mundo.
Consideramos a LINGUAGEM como um precedente essencial e geral a todas as formas de Conhecimentos e Ciências.
A Linguagem constitui-se na ferramenta básica do exercício e construção dos Conhecimentos e Ciências.
Constitui também a ferramenta do exercício da Epistemologia, que é o ESTUDO dos Conhecimentos e Ciências.
E, evidentemente, também constitui a ferramenta de construção desta exposição que agora estamos fazendo.
Nesse sentido, acrescentamos a reflexão: a FORMA expressa o CONTEÚDO?
Ou seja, aquilo que se pretende estudar, conhecer, demonstrar, é devidamente entendido e explicado pela forma adotada? O conteúdo é dependente ou independente da forma adotada?
Lembrando que a linguagem não é apenas verbal, mas também visual, gestual, auditiva, sensitiva, etc.,o quanto todas essas formas de comunicação expressam o conteúdo daquilo que pretendem comunicar?
Esse questionamento lembra que a linguagem também pode ser obstáculo para expressar o conteúdo. No entanto, não há como escapar da linguagem.
Ao surgirem as primeiras comunidades de Homo sapiens, juntamente com o surgimento da linguagem surgiu também a Cultura.
Usamos aqui a palavra Cultura não como significando aquilo que é adquirido com o acúmulo de informações e conhecimento, embora não neguemos o emprego deste termo nessas situações.
Aqui usamos a palavra Cultura como significando aquilo que resultou da convivência comunitária de seres humanos que fizeram uso da linguagem (entendida como um atributo humano). Ou seja, a espécie humana e as outras espécies animais têm como necessidades básicas o “comer, beber, dormir, procriar”. No entanto, para os seres humanos, “comer, beber, dormir, procriar” sempre implica em alguma coisa a mais que se insere na “Cultura”.
Entre tais atividades culturais estão as diversas formas de procedimentos “ritualísticos” que acompanham essas atividades. Esses processos tornaram-se mais complexos na medida em que os seres humanos passaram a ter várias reflexões, sentimentos e emoções sobre si mesmo, sobre os outros e sobre o mundo, adquirindo noções que “transcenderam” às atividades vitais corriqueiras.
Podemos dizer que, provavelmente, ser humano, linguagem e cultura surgiram juntos. Assim também “o conhecer”. Talvez as primeiras formas de “conhecer” tenham ocorrido a partir de duas ferramentas: a capacidade de comparação e a memória. A capacidade de fazer comparações, aproximando ou distanciando as coisas observadas, levou a sucessivas “associações” que só foram possíveis de constituírem “Conhecimento” a partir da possibilidade de serem “memorizadas”.
.Podemos entender o “Conhecer” como: entender, compreender, saber, interpretar, “re-conhecer”. Cada um desses sinônimos de “conhecer”, pode indicar diversas formas e processos de Conhecimento que não apenas o estritamente científico, que tem hegemonia nos tempos atuais.
Essas são diferentes formas de apreensão e interpretação “consciente” de dados fornecidos pelos sentidos.
Por outro lado, “eu tenho conhecimento de que tenho Conhecimento”.
“Conhecer que tenho Conhecimento” é como “o reconhecer-se no espelho”.
É auto-evidente.
Supostamente só o ser humano tem capacidade de “reconhecer-se no espelho”. Tem capacidade de dizer: “aquele que está ali não é um outro; aquele que está alí sou eu mesmo”. Por outro lado também é capaz de dizer: “Aquele que está alí é uma imagem minha, mas não é a minha pessoa. Eu estou aqui e ali no espelho está apenas uma imagem visual do que eu sou”.
Essas possibilidades são próprias do ser humano. Supostamente apenas o ser humano tem essa capacidade paradoxal de “dividir-se” e assim “olhar-se”, pois para fazer uma “reflexão” sobre si mesmo, para pensar, ou falar sobre si como se falasse de um outro o ser humano tem essa capacidade de divisão. Paradoxal porque implica em glória e ruína para o ser humano. Simbolicamente falando, é como o “fruto do CONHECIMENTO do Bem e do Mal”. A possibilidade de “conhecer” eleva e rebaixa, alegra e entristece o ser humano.
Em um nível amplo de debate sobre o Conhecimento, podemos tentar extrapolar outras reflexões como:
- os outros seres vivos “podem conhecer” de algum modo?
- quando um ser unicelular reage a estímulos benéficos de um modo e aos nocivos de outro, há aí uma atividade precursora do Conhecimento?
- a informa;’ao físico-química do DNA e das proteínas é precursora do conhecimento?
- as máquinas podem conhecer?
Antes de tudo, essas são perguntas e elocubrações feitas por um OBSERVADOR HUMANO. Sem essas elocubrações não se cogitaria tais coisas. Sem o SER HUMANO não seria possível pensar se moléculas, células, seres vivos, ou máquinas poderiam conter uma parcela da função de conhecer.
Assim, só há Conhecimento ou Ciência porque há um conhecedor, um cientista, que possa praticar essa atividade, ou seja, um SER HUMANO.
Portanto, esse Conhecimento, essa Ciência são DEPENDENTES desse observador, não existem por conta própria.
Estudos do Conhecer -
Para abordar o Conhecimento posso estudar seus diferentes processos:
1 - biológicos e neurológicos
2 - cognitivos e psicológicos
3 - históricos e sociais
4 - antropológicos e culturais
5 - filosóficos
6 - outros
Nesses diferentes processos, um pressuposto biopsíquico é a “Consciência”, ou “Cons-Ciência”, pressuposto esse que pode ser estudado também por outros campos.
Assim, ter conhecimento de alguma coisa é como ter ciência dessa coisa, ou seja, para ter conhecimento preciso ter “Consciência”.
O quê é Consciência?
Como dizia William James (1842-1910): ”todos sabem o que é consciência até o momento de querer definí-la.”
William James falava em “várias consciências”. Mas, no momento não vamos focar essas noções desse estudioso.
Vamos citar os principais sentidos de “consciência” em variados campos:
- Consciência neurológica, ou clínica: é um ESTADO de plena noção de si e do meio.
- Consciência psicológica: dentro da noção psicológica de consciente, ou ainda próxima da noção de ego.
- Consciência filosófica: a percepção da distinção e das relações entre o “eu” e o mundo
- Consciência ética: o que diz respeito às relações entre o “eu” e o outro.
Há intersecções entre essas diferentes noções de consciência, e mesmo estas duas últimas compreendem ambas o campo filosófico.
Em se falando em consciência também pode-se pensar em uma “mente que processa o Conhecimento”.
Projetamos um diagrama em que colocamos nas posições leste e oeste, respectivamente, as palavras Razão e Emoção. Nas posições norte e sul colocamos, respectivamente, as palavras Intuição e Instintos.

Nesse diagrama observa-se um equilíbrio entre razão e emoção de um lado e instinto e intuição de outro. Devemos frisar que essas diferentes funções não são exatamente opostas, mas, que a interrelação entre elas implica em diversos mecanismos que concorrem para o Conhecimento. Assim, o processo de conhecer não inclui apenas o raciocínio , ou  a razão, mas inclui também emoção e instintos. Por outro lado, a intuição, por vezes de difícil definição, pode ser melhor entendida se for lembrada como uma importante função no processo criativo. A criatividade, em suas variadas vertentes, implica em intuição, que provém das outras três funções em conjunto. Aliados a esses fatores estão: o imaginário e as noções de consciente e inconsciente dentro da psicodinâmica tradicional.
Devemos ter cuidado com o contexto em que se situar a palavra “inconsciente”. Entende-se que um indivíduo que chega inconsciente a um Pronto Socorro, tenha chegado “desmaiado”, “sem sentidos”. Já quando alguém diz que cometeu um “ato falho”, costuma dizer também que cometeu um ato inconsciente.
Além disso, o quadro inclui também as Funções Cognitivas, que são as funções ligadas ao aprendizado, dentro de uma perspectiva mais neurológica que incluem: atenção, orientação temporo-espacial, linguagem, memória, capacidade de cálculo, outras correlações situacionais.
Além das Funções Cognitivas, que incluem a memória neuropsíquica, há também “outras memórias”.
Essas outras memórias também participam do processo de Conhecimento.
Assim, há uma memória neuropsicológica, mas também há uma memória histórica, coletiva, cultural.
Temos Conhecimento Cultural do passado pela memória histórica.
Nesse sentido, entre os antigos gregos,  Mnemósine, a deusa da memória, precedia o Culto aos Heróis Gregos, dando assim um sentido de preservação à cultura desse povo.
Linguagem – ferramenta do conhecer
Projetamos um diagrama em que foram colocados em intersecção três círculos correspodentes a Ciências Exatas, Ciências Biológicas e Ciências Humanas. Transversa
Vemos nesse diagrama que a linguagem das Ciências Exatas, Ciências Humanas e Ciências Biológicas é transversalizada pela Linguagem Coloquial e Artística. Por sua vez, todas essas linguagens estão abarcadas por um campo mais amplo que diz respeito à Linguagem Cultural Ampla, que compreende todas as formas possíveis de linguagem humana.
Assim, há fenômenos naturais ou humanos que  podem ser estudados pelos campos científicos específicos, mas que dentro de um campo mais genérico não-científico pode já implicar em Conhecimento.
Um exemplo de um conhecimento a priore que não necessita de comprovação científica é a noção de “fogo”.
Todos sabem o que é o FOGO desde a pré-história.
Ao ouvir a palavra FOGO, já há um entendimento implícito “ancestral” que faz parte de um conhecimento cultural comum (evidentemente para aqueles que entendem a língua em que se fala a palavra "fogo").
Há também a compreensão cultural vivencial do “fogo”. Seja qual for a língua de uma pessoa, a visão do fogo implica em noção de queimar. Esse é um conhecimento que não necessita da ciência. Ninguém vai dizer que só vai passar a dizer que o fogo queima depois que a ciência provar que o fogo queima.
Pode haver alguém que queira citar a exceção de uma doença neurológica genética rara na qual não há a percepção táctil de dor. Pode haver alguém também que lembre casos de doenças como a hanseníase, onde pode ocorrer a ausência localizada da sensação de dor. No entanto, o fato de haverem essas exceções, em sendo exceções, confirmam “a regra” de que a noção de fogo é uma noção universal entre os seres humanos.
Outra coisa é o “estudo científico” do fogo. Pode-se dizer cientificamente que sem oxigênio não há fogo e coisas desse tipo.
Noções históricas do Conhecimento
A palavra Conhecimento vem do Latim  cognoscere, que, por sua vez, vem do  Grego gnosis. Esse é um termo grego mais para Conhecimento experiencial, vivencial, enquanto o termo Episteme seria mais para um Conhecimento teórico, ou ainda conhecimento com certo método.
Com o passar do tempo, palavras derivadas dessas passaram a ter sentidos diversos, de modo que Epistemologia diz respeito ao estudo do Conhecimento em si, e não de um conhecimento técnico específico de uma área prática.
Nossa noção ocidental de Conhecimento é “bastante grega”. Ou seja, a herança cultural grega de Conhecimento permanece influente na maneira ocidental de conhecer.
Historicamente, a primeira fase de Conhecimento dos gregos é a fase “pré-filosófica” ou fase mítico-religiosa-existencial do conhecimento.
Esse é um período em que o Conhecimento era legado de geração a geração, por relatos acumulados desde remotas eras, com um entendimento de mundo e de ser humano proveniente de antigas associações e correlações. Nós, hoje em dia, temos impressão de que essa forma de conhecimento era simplesmente ingênua ou até mesmo ignorante. No entanto esse é um julgamento equivocado por não levarmos em consideração as circunstâncias da época em questão.
Karl Kerényi (1897-1973), um dos maiores estudiosos da mitologia grega, dizia que, para os gregos, cada elemento mítico tinha seu “equivalente existencial”, “como duas faces de uma mesma moeda”. Ou seja, os mitos diziam respeito á realidade do dia a dia das pessoas e não eram simplesmente devaneios. Esses entendimentos permitiam aos gregos a resolução de seus problemas e a sua organização social e cultural.
Posteriormente, observados à distância, os mitos começaram a serem vistos como abstratos, etéreos e separados da vida comum.
Depois, têm-se a Fase Filosófica.
Essa fase é assim considerada por ser determinada pelo fato de começar-se a fazer perguntas a respeito do mundo, apesar de já haverem explicações tradicionais acabadas sobre essas questões. Assim, também foram procuradas formas de responder ou explicar essas indagações. Alguns métodos começam a ser utilizados para atingir esse conhecimento.
Tradicionalmente considera-se Tales de Mileto (c.625-546 a.C.) como o primeiro filósofo grego.
Em seus métodos usava a reflexão especulativa e a matemática experimental. Assim que se tem, por exemplo, o conhecido Teorema de Tales, que teria provindo da necessidade dele medir a Grande Pirâmide.
Deve-se frisar que tudo o que se sabe sobre Tales (bem como sobre diversos outros filósofos) foi escrito por outras pessoas e não por ele.
Tales em sua Escola de Mileto teve seguidores em Anaximandro e Anaxímenes.
Xenófanes de Cólofon (c.560-478 a.C.) era um opositor dessa escola de Mileto e criou a Escola de Eleia. Tido como um reformador religioso, ou mais como um poeta do que filósofo, ele é tido como um “desmistificador”, ou seja um detrator das características antropomórficas dos deuses gregos.
Embora sendo um aparente “recorte” entre o tempo dos mitos e o da filosofia, no entanto os próprios filósofos continuaram com suas crenças, ao mesmo tempo em que faziam suas especulações.
Há outros importantes pré-socráticos, como, por exemplo, Pitágoras, mas o tamanho desta aula não comporta uma maior explanação sobre isso.
Há que se lembrar ao menos que atribui-se a Pitágoras a criação da palavra Filosofia, embasada em uma atitude de certa humildade de Pitágoras ao afirmar que “sábio só Deus”, e que ele era apenas um “amigo da sabedoria”, que é o sentido da palavra “filósofo”.
A partir de Sócrates (c.470-399 a.C) inicia-se um novo período da Filosofia Grega. Sócrates volta-se mais para o questionamento do interior do ser humano, enfocando a consciência e o auto-conhecimento. Sócrates fundamenta o conhecimento como uma virtude (Arethé) e como uma Episteme, ou seja uma atividade reflexiva e não somente vivencial. Sócrates nada escreveu. Platão, seu maior discípulo fez relatos do método Maiêutico de Sócrates em que, através de perguntas sucessivas, fazia com que o o próprio questionador chegasse à solução de seu questionamento.
Platão (c.428-348 a.C.) discípulo de Sócrates, criou a Academia. Esse nome vem do herói grego Academo, sobre cujo túmulo foi construída essa escola. Na porta da Academia havia uma placa que dizia: “aqui só entra quem souber Geometria”. Esse dado já indica uma clara disciplina de conhecimento com essa designação e explicita um critério de seleção para o ingresso em tal escola.
Platão praticamente “sistematizou” a Filosofia com suas inúmeras obras escritas.
Considerava que aprender era uma espécie de “recordar”, pois as noções perfeitas do que são realmente as coisas estariam localizadas em um Mundo das Ideias (Topos Noetos), apenas parcialmente acessado pelos seres humanos, que, assim teriam imperfeito conhecimento do Real.
Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, criou o Liceu, nome esse devido a essa escola estar situada ao lado do templo de Apolo Lício. Aristóteles estudou praticamente sobre “tudo”. Mas ele tinha algumas ideias que diferiam das de seu mestre Platão. Para Aristóteles, todo Conhecimento seria provindo daquilo que entra pelos sentidos.
Esse ainda é o autor mais citado em Ciências Humanas.
Parte do Conhecimento Grego perdurou no período romano e na Idade Média.
Queremos frisar que na Idade Média o Conhecimento não desapareceu (!).
Por exemplo: os estudiosos da I. Média não pensavam que o mundo era plano (!).
Esse mito foi construido por Antoine-Jean Letronne (1787-1848) e Washington Irving (1783-1859).
Em primeiro lugar a noção de Idade Média foi construída posteriormente à mesma. Em segundo lugar os iluministas e pós-iluministas construíram a ideia de que a Idade Média era uma Idade das Trevas. Isso foi uma espécie de mecanismo de defesa de projeção, ou seja, projetar o mal nos outros e ficar com o bem para si. Assim, os iluministas tinham a luz da Razão enquanto os medievais estavam imersos na escuridão da ignorância.
Após o Renascimento costuma-se situar a “Revolução Científica”.
Ocorre que a ideia de Revolução como sinônimo de “agitação”, “mudança rápida”, “mudança tumultuada” viria depois da Revolução Francesa (1789). Assim, no tempo da Revolução Científica essa palavra significava um determinado tipo de movimento circular.
Então certas revoluções do Conhecimento foram assim entendidas à distância, por alguém que veio tempos depois.
De qualquer forma, o século XVII também é chamado de século da Revolução Científica.
Há quem também tivesse chamado de Revolução Copernicana à publicação da obra de Copérnico em 1543, referente à passagem do geocentrismo ao heliocentrismo.
Ora, em sendo “revolução”, poucas pessoas teriam sido atingidas por ela no tempo de Copérnico, já que poucos eram os estudiosos e a maioria da população continuava vivendo sua vida dizendo que o sol nasce, anda e se põe. Aliás, nós ainda continuamos dizendo isso e  essa é uma verdade muitas vezes suficiente e abrangente para diversas situações que vivenciamos no dia a dia.
Diz-se que com a Revolução Científica começou a experimentação, mas o conhecimento grego se dividia entre experimentação e especulação.
Também na Idade Média estava presente a experimentação, haja vista os experimentos de Robert Grosseteste (1168-1253) e seu discípulo Roger Bacon (1214-1294).
De qualquer modo, chamamos de Ciência “Moderna” aquela que começa na assim chamada Idade Moderna. Tradicionalmente seus principais expoentes foram: Francis Bacon, René Descartes e Galileu Galilei.
Francis Bacon (1561-1626) criou o método assim chamado de Empirismo, o qual valoriza a Ciência Experimental como forma de Conhecimento. Faz uso da Indução, ou seja, do método que considera inferir-se um determinado entendimento como provindo “do particular para o geral”. Assim, um determinado experimento, em circunstâncias similares, poderia supostamente levar ao mesmo resultado.
René Descartes(1596-1650) foi o criador do Racionalismo  e do método que levou a “dividir para entender”. Seu método valorizou a Dedução, ou seja, o caminho que vai “do geral para o particular”.
Galileu Galilei (1564-1642) trabalhou com ciência experimental fazendo uso específico da matemática e de medidas. Teve embate com os estudiosos seus contemporâneos por propor métodos indiretos de conhecimento por meio de instrumentos. Como Aristóteles dizia que o Conhecimento era adquirido pelos sentidos, os outros estudiosos desconfiavam da necessidade de utilizar-se de alguma coisa entre os sentidos e o objeto, como, por exemplo, o telescópio.
De Scientia para Ciência
A Scientia dos estudiosos medievais e depois de Descartes, Bacon e Galileu transforma-se em Ciência, na medida em que as línguas vernáculas substituiram o latim como expressão do conhecimento, mantendo-se a palavra “Ciência” nas traduções. Em Latim o verbo para “conhecer” é Scire, de onde vem Scientia.
No século XVII também surgiram as primeiras sociedades científicas.
Essas sociedades foram uma espécie de oficialização da Ciência no contexto do Estado e indicou a percepção dos detentores do poder político de que a Ciência poderia ser um importante aliado para a manutenção do poder.
Assim, em 1660 foi criada a Royal Society of London for the Improvement of Natural Knowledge, logo após a Restauração do Rei Charles II. Foi  lançada a ideia de instalar um “Império do Conhecimento”.
Em 1666 foi fundada a Académie de Sciences da França, pelo Rei Luís XIV.
Uma personagem histórica que surge nesse período e que adentra ao século XVIII como importante estudioso é Isaac Newton (1643-1727).
Eventualmente ele é citado como Cientista ou Físico. Mas, nos anos em que viveu essas duas palavras ainda não existiam.
Na verdade, ele era um Filósofo Natural. Assim, sua obra principal foi:
Philosophie Naturalis Principia Mathematica (1687), ou seja Princípios Matemáticos da Filosofia Natural. Nessa obra ele deixou fundamentos da Mecânica Clássica.
Além disso, também era um alquimista., um estudioso da religião e de esoterismo.
No transcorrer do Século XVIII configura-se o Iluminismo como um processo de reforçar-se a Razão como meio de Conhecimento e Liberdade para os povos. No entanto, no fim desse mesmo século, após a Revolução Francesa, ocorreu o que foi chamado de Terror, com a perseguição e execução sumária de supostos inimigos, sendo que as emoções instintivas e a paranoia superaram a razão em pouco tempo após a suposta vitória desta.  
Algo concomitantemente, o Iluminismo alemão, ou Erklarung, tinha como seu representante principal Immanuel Kant (1724-1804). Inúmeros poderiam ser os comentários para se fazer sobre Kant e o Conhecimento. No entanto, aqui faremos menção a um trabalho dele não tão citado que é O Conflito das Faculdades (1798).
Nessa obra ele reclamou dos favores do príncipe às Faculdades de Teologia, Direito e Medicina em detrimento da Faculdade de Filosofia (que englobava todas as humanidades). Para Kant esta faculdade deveria ser o centro das outras, ou ainda preceder as outras. Essa obra também pode ser vista como uma sinalização da gradual superação das áreas que irão aos poucos dar espaço à Ciência de “interesse prático”, deixando os outros campos em situação “menos científica”. 
Século XIX
Neste século as Ciências acabam configurando-se como tal, acompanhando um período mais intenso da chamada Revolução Industrial e a instituição dos Estados-Nação modernos.
Nesse século que surge o termo “Cientista” – palavra criada por William Whewell em 1833 (1834) de forma irônica, fazendo analogia a “artista”.
Em 1840 publicou o termo seriamente, tendo criado também o termo “físico” para o estudioso da Física, na obra  The Philosophy of the Inductive Sciences.
Século XX
Evidentemente neste brainstorm estamos passando rapidamente por grandes períodos.
Assim no século XX temos:
1900 – Freud – Interpretação dos Sonhos
1900 – Max Plank – Física Quântica
1905 – Einstein – Teoria da Relatividade
1927 – Heisenberg - Princípio da Incerteza
Devemos assinalar que a Primeira Guerra Mundial, que é menos lembrada do que a Segunda, foi um importante marco divisório de épocas, em parte mais traumático do que a Segunda Guerra. Antes de 1914 havia certo espírito de que a Ciência iria resolver todos os problemas. Após 1918, o mundo cai em perplexidade, surge um Tempo de Incertezas (e a Geração Perdida). É notório que o assim chamado Principio da Incerteza de Heisenberg, de certa forma expressa isso, expressando na linguagem científica um estado de espírito então vigente. Por outro lado, esse princípio acompanhou também um questionamento emergente a respeito de um Cientificismo então em voga.
No questionamento desse cientificismo vem a obra de Gaston Bachelard (1884-1962) de 1934 – “O novo espírito científico”.
Já como um exemplo de uma busca de nova sistematização da Ciência, mas dentro de parâmetros neo-positivistas há Karl Popper (1902-1994) responsável pelo Racionalismo crítico e seu critério de Falseabilidade com a obra de 1959 - “A Lógica da Descoberta Científica”.
Já dentro de uma visão dinâmica da Ciência Thomas Kuhn (1922-1996) em “A estrutura das revoluções científicas”(1962)  lança o conceito de paradigmas. Reforça que toda atividade científica está inserida em um contexto mais amplo: cultural, social, histórico, político, econômico, etc. Assim, a Ciência não acontece por si só e isolada e a Ciência não se basta a si mesma e não caminha por seus próprios passos.
Podemos dizer então que existem“Várias Ciências” e não uma só.
Havia a Ciência da Mesopotâmia, a Ciência do Egito, etc.
Há uma Ciência de cada contexto cultural.
A Ciência “hegemônica triunfalista ocidental” liga-se a ganhos e perdas para a humanidade; cresceu e se impõe ligada ao poder econômico e político.
O conhecimento científico convencional adota um distanciamento entre sujeito e objeto: têm-se a Impressão de sujeito  “neutro” e “ciente da verdade” e de objeto com “medidas absolutas”.
Em uma nova epistemologia científica o Conhecimento se processa entre sujeito e sujeito: um sofre a influência do outro; a observação depende de cada um; as “medidas” obtidas são relativas.
Temores a respeito da Ciência Moderna
No Séc XIX era vista como ameaça ao ser humano, como nas obras:
-         Frankenstein
-         Jeckill and Hyde(O médico e o monstro)
No séc. XX, após 2a. Guerra Mundial e bombas sobre Hiroxima e Nagasaki e a Guerra Fria houve uma relativização da Ciência como um suposto depositário da Verdade e do Bem.
Acentua-se então a necessidade de diálogo entre a Ciência e outras formas de  Conhecimento.
Assim a visão ideal de uma “Ciência Pura”,ou de um “Cientista despojado e iluminado” precisa ser repensada em busca da dimensão humana da Ciência e do Cientista, sujeito às mais variadas influências, pressões, necessidades, anseios, haja vista que muitos cientistas se dedicaram e se dedicam a aprimorar formas de destruição cada vez mais sofisticadas.
Deve-se levar em conta o poder relativo da Ciência:
Os avanços tecnológicos e científicos são inegáveis (pois permitem até que esta aula aconteça desta forma) mas, não há Ciência imparcial, não há Ciência pura, o que não necessariamente implique em erro moral a presença de tendências ou bias nas pesquisas científicas.



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